CENTRO DE EDUCAÇÃO
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO E FILOSOFIA
I. Identificação: PROJETO DE CURSO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
1.1. Título: QUINTAS FILOSÓFICAS – “Os clássicos da Teoria Crítica da Sociedade: diálogos entre a filosofia e a educação a partir de Karl Marx”
1.2. Período: 1° Módulo 10.03.2010 a 07.07.2010; 2° Módulo 12.08.2010 a 15.12.2010
1.3. Carga horária total: 160h (cento e sessenta horas)
1.4. Carga horária semanal do coordenador e supervisora: 5 (cinco) horas
1.5. Local de Atuação: - SALA 4 DO CENTRO DE EDUCAÇÃO/UFES
1.6. Público Alvo:
1.3.1 Acadêmicos (discentes e docentes) da UFES e Instituições de Ensino Superior da Grande Vitória, docentes da educação básica, graduados em áreas afins;
1.3.2 Vagas: Serão ofertadas 20 vagas. Os interessados serão submetidos a uma avaliação, com informações na ficha de inscrição e, se necessário, uma entrevista com os professores responsáveis
1.7. Instituições Envolvidas: Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Filosofia da UFES (CE/UFES); CENTRO DE EDUCAÇÃO/UFES; CEFD/UFES
1.8. Equipe de Trabalho:
Coordenação Administrativa: Prof. Dr. Robson Loureiro (UFES)
Coordenação pedagógica: Profª Drª Sandra Soares Della Fonte (UFES)
Monitoras: Luciana Molina Queiroz (5° período de Filosofia/UFES); Tamiris de Souza Oliveira (8° período de Pedagogia/UFES)
II. Resumo:
O curso tem como foco a introdução aos estudos dos principais clássicos da Teoria Crítica da Sociedade (Escola de Frankfurt) e a inter-relação entre essa abordagem teórica e o campo educacional. Essa opção representa uma decisão acadêmico-política. Diante dos apelos pragmáticos que se impõem à universidade e da atmosfera contemporânea de “aversão à teoria” (ADORNO apud LOUREIRO, 2007), este projeto zela, nos limites das contradições postas, por uma formação cultural ampla e com rigor teórico. Assume-se, assim, que a universidade tem o compromisso com a formação de intelectuais capazes de estabelecer relações entre aquilo que se considera antigo e ultrapassado e o que é concebido como novo e atual.
Justificativa:
O projeto visa dar continuidade ao projeto de curso de extensão Teoria Crítica da Sociedade: diálogos com a filosofia e a educação (Registro PROEX 55202/2008, renovado para 2009), realizado no 1° e 2° semestres de 2009. Uma parcela significativa dos alunos que participaram do curso revelou que para avançar nos estudos da Teoria Crítica da Sociedade seria importante retornar a alguns de seus clássicos inspiradores. Mas, por que ler os clássicos? Poderíamos aqui repetir o que afirma Ítalo Calvino: “A única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos” (CALVINO, 1993, p. 4). É claro que, assim posta, a afirmação parece um tanto enigmática, pois, afinal, por que é preferível lê-los a não lê-los?
Saviani considera que o clássico não se confunde nem com o tradicional, nem se opõe ao moderno; “Clássico, em verdade, é o que resistiu ao tempo” (SAVIANI, 1991, p. 25) porque “é aquilo que se firmou como fundamental, como essencial” (SAVIANI, 1991, p. 21). Ele resiste ao tempo, pelo menos, por uma dupla razão. Ele continua a mobilizar questões e temas, a despeito de quando foi escrito. Nas palavras de Calvino, “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer” (CALVINO, 1993, p. 2). Mas como o clássico preserva essa contemporaneidade? Para Calvino, “É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível” (CALVINO, 1993, p. 4). Ao se imporem como inesquecíveis ou se ocultarem na memória, os clássicos influenciam “mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual” (CALVINO, 1993, p. 1). Portanto, livros ou autores clássicos assim o são porque conseguem condensar a riqueza e a profundidade da objetivação humana em um determinado tempo. Ao conseguirem fazer isso, dialogam com a história futura, pois trazem à baila relações que contribuíram para a constituição do presente e do porvir.
Segundo Calvino, os clássicos só devem ser lidos por amor ou por respeito. A exceção, para o autor, constitui-se no ambiente escolar: “[...] a escola deve fazer com que você conheça bem ou mal um certo número de clássicos dentre os quais (ou em relação aos quais) você poderá depois reconhecer os ‘seus’ clássicos. A escola é obrigada a dar-lhe instrumentos para efetuar uma opção: mas as escolhas que contam são aquelas que ocorrem fora e depois de cada escola” (CALVINO, 1993, p. 3).
Ao seguir essa orientação, este projeto de extensão ratifica que os clássicos configuram-se como substância da formação cultural a ser garantida pela educação escolar (inclusive a universitária), pois é por meio da apropriação e do diálogo com eles que se pode desenvolver a autonomia intelectual.
São dois, os eixos de discussão que orientarão o estudo dos clássicos da Teoria Crítica. O primeiro diz respeito a aspectos filosóficos de sua produção intelectual, em especial sua concepção ontológica e gnosiológica. O segundo consiste na sua contribuição para a compreensão do fenômeno educacional no sentido lato e escolar.
Dentre os vários clássicos que influenciaram a Teoria Crítica, Karl Marx será o primeiro a ser estudado por meio deste projeto de curso de extensão. Por quê? A despeito de outras influências que sofreu, é dentro da tradição do marxismo ocidental que a Teoria Crítica se coloca. Portanto, é essa tradição que constitui a matriz fundamental da Teoria Crítica e a partir da qual a apropriação de outras influências ocorre.
III. Objetivos da Atividade:
4.1 Geral:
Desenvolver estudos sobre filosofia e educação, tendo como interlocutores os principais clássicos inspiradores da Teoria Crítica da Sociedade (Escola de Frankfurt), em especial Karl Marx.
4.2 Específicos:
Analisar a contribuição de Karl Marx no diálogo entre a Teoria Crítica da Sociedade, a Filosofia e o campo educacional;
Evidenciar a atualidades de pressupostos marxianos para o debate filosófico contemporâneo e para a compreensão dos fenômenos educacionais.
IV. Metas
Em 2010/1, o presente curso de extensão tem como meta abordar a teorização marxiana, partindo de aspectos históricos e biográficos de Karl Marx, as fontes inspiradoras de seus estudos (a economia política, a filosofia alemã e o socialismo utópico), obras de sua juventude (com particular destaque para os Manuscritos econômico-filosóficos de 1844) e sua ruptura com os jovens hegelianos (obras como A ideologia alemã e o texto Teses contra Feuerbach).
Em 2010/2, a meta do curso é centrar o estudo em obras como Para crítica da economia política, Crítica do Programa de Gotha e O capital.
V. Metodologia
5.1. Atividades Propostas:
Leitura de livros, periódicos acadêmicos;
Análise de filmes e documentários;
Elaboração de apontamentos sobre o material estudado;
Produção de seminário e artigos acadêmicos.
5.2. Procedimentos:
O curso consiste de dois momentos: 1) Encontros presenciais (quinzenais) com os Professores responsáveis, para debate e aprofundamento do material de estudo sugerido; 2) Trabalhos individuais/coletivos de leitura, estudo, sistematização e elaboração de apontamentos do material de estudo proposto em momento extra-aula.
5.3. Sistemas de Avaliação e Acompanhamento:
A avaliação do curso, dos professores e dos participantes será feita ao longo do ano em especial pelo procedimento dialógico e pelo registro escrito dos participantes. Para efeito de aprovação no curso, serão consideradas: 1) 75% de freqüência nos momentos presenciais; 2) elaboração de artigo acadêmico que problematize algumas das temáticas abordadas e do material utilizado como referência.
VI. Cronograma de Execução: (data de realização/etapas)
1° Módulo: 10.03.2010 a 07.07.2010
2° Módulo: 12.08.2010 a 15.12.2010
VII. Recursos:
7.1. Humanos
Prof. Coordenador-Administrativo – Dr Robson Loureiro (UFES)
Profª Coordenadora-Pedagógica – Drª Sandra Soares Della Fonte (UFES)
Profs Convidados – A serem confirmados;
Monitoras: Luciana Molina Queiroz (Acadêmica 5° período de Filosofia) e Tamiris Souza de Oliveira
7.2. Materiais
Sala de aula;
Equipamento multimídia: aparelho de DVD, computador com mouse, teclado, caixa de som; tela para exibição de imagens;
7.3. Financeiros (indicação da fonte e com planilha de custos, se houver)
O curso será gratuito (não haverá cobrança de qualquer tipo de taxa)
VIII. Resultados Esperados:
A partir dos estudos realizados no curso, o resultado esperado é a organização de uma brochura com os artigos elaborados pelos participantes, cujo objetivo é aprofundar a relação filosofia e educação a partir da teoria marxiana.
IX. Considerações Finais:
A universidade pública brasileira necessita prosseguir e perseguir sua tarefa precípua de formar intelectuais capazes de articular o passado, o presente e o futuro. Em tempos de multiculturalismo e defesa da diferença, é fundamental que a academia não reprima, não discrimine e não exclua, da discussão pública, os clássicos autores que estão na base do pensamento contemporâneo. Não deixa de ser atual a idéia do Filósofo medieval Bernardo de Chartres: “Somos anões empoleirados nos ombros de gigantes. Assim, vemos melhor e mais longe do que eles, não porque nossa vista seja mais aguda ou nossa estatura mais alta, mas porque eles nos elevam até o nível de toda a sua gigantesca altura...”. Quanto mais longe no passado, menos obscuro se torna nosso presente e menos bárbaro nosso futuro.
X Referências Bibliográficas
ADORNO, Theodor Wiesengrund. Lições de sociologia. (Tradução de João Tiago Proença e Manuel Seca de Oliveira). Lisboa: Edições 70, 2004.
______. Negative dialectics. New York/London: Continuum, 2003a.
_____. Educação após Auschwitz. In: ______. Educação e emancipação. (Tradução de Wolgang Leo Maar). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995a. p. 119-138.
______. Progresso. In: ______ . Palavras e sinais: modelos críticos 2. (Tradução de Maria Helena Ruschel). Petrópolis: Vozes, 1995b. p. 37-61.
______. Notas marginais sobre teoria e práxis. In: ______. Palavras e sinais: modelos críticos 2. (Tradução de Maria Helena Ruschel). Petrópolis: Vozes, 1995c. p. 202-229.
______. Observações sobre o pensamento filosófico. In: ______ . Palavras e Sinais: modelos críticos 2. (Tradução de Maria Helena Ruschel). Petrópolis: Vozes, 1995d. p. 15-25.
______. O que significa elaborar o passado. In: ______. Educação e emancipação. (Tradução de Wolgang Leo Maar). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995e. p. 29-50.
______. Tabus acerca do magistério. In: ______. Educação e emancipação. (Tradução de Wolgang Leo Maar). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995f. p. 97-118.
Adorno T. W. Educação e emancipação. In: ______. Educação e emancipação. (Tradução de Wolgang Leo Maar). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995g. p. 169-185.
______. Educação ... para quê? In: ______. Educação e emancipação. (Tradução de Wolfgang Leo Maar). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995h. p. 139-154.
______. Teoria da semicultura. (Tradução de Newton Ramos-de-Oliveira). Araraquara: UNESP, 1992. Mimeografado.
______. La idea de historia natural. In: ______. Actualidad de la filosofia. Barcelona: Paidós, 1991a. p. 103-134.
______. A indústria cultural. In: COHN, Gabriel (Org.). Theodor Adorno: Sociologia. São Paulo: Ática, 1986b. p. 92-99 (Coleção Grandes Cientistas Sociais).
______. Teoria estética. (Tradução de Artur Mourão). São Paulo: Martins Fontes, 1982.
______. Dialectica Negativa. (Versão em espanhol – Tradução de José Maria Ripalda). Madrid: Taurus, 1975.
ADORNO, T. W & HORKHEIMER, Max. Indústria cultural: o iluminismo como mistificação das massas. In: ADORNO, T. Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002. p. 7-80.
______. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. (Tradução de Guido Antônio de Almeida). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. In: ______. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 9-16. Disponível em: <http://www.lumiarte.com/luardeoutono/calvino.html>. Acesso em: 27 março 2005.
LOUREIRO, Robson. Aversão à teoria e indigência da prática: crítica a partir da filosofia de Adorno. Educação & Sociedade, v. 28, n. 99, p. 522-541, 2007. Disponível em:. Acesso em: 1 fev. 2010.
MAAR, Wolfgang Leo. Adorno: a atualidade da dialética. Margem esquerda: ensaios marxistas. São Paulo: Boitempo, n. 2, p. 112-120, nov. 2003 / maio 2004.
______. À guisa de introdução: Adorno e a experiência formativa. In: ADORNO, T. W. Educação e emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 1995. p. 11- 28.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da Antigüidade aos nossos dias. (Tradução de Gaetano Lo Monaco) 5. ed. São Paulo: Cortez, 1996.
MARX, Karl. Crítica do Programa de Gotha. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1875/gotha/index.htm. Acesso em: 30.05.2007.
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. (Tradução de Jesus Ranieri). São Paulo: Boitempo, 2004.
______. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. In: ______. Os pensadores. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 1-82. v. II.
______. Introdução à crítica da Economia Política. In: ______. Os pensadores. 4. ed. (Tradução de José Arthur Giannotti e Edgar Malagodi). São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 3-25. v. I.
______. O capital: crítica da economia política. (Tradução de Reginaldo Sant’Anna). Livro I. 10. ed. São Paulo: Difel, 1985. v. I.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. São Paulo: Cortez/ Autores Associados, 1991.
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO E FILOSOFIA
I. Identificação: PROJETO DE CURSO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
1.1. Título: QUINTAS FILOSÓFICAS – “Os clássicos da Teoria Crítica da Sociedade: diálogos entre a filosofia e a educação a partir de Karl Marx”
1.2. Período: 1° Módulo 10.03.2010 a 07.07.2010; 2° Módulo 12.08.2010 a 15.12.2010
1.3. Carga horária total: 160h (cento e sessenta horas)
1.4. Carga horária semanal do coordenador e supervisora: 5 (cinco) horas
1.5. Local de Atuação: - SALA 4 DO CENTRO DE EDUCAÇÃO/UFES
1.6. Público Alvo:
1.3.1 Acadêmicos (discentes e docentes) da UFES e Instituições de Ensino Superior da Grande Vitória, docentes da educação básica, graduados em áreas afins;
1.3.2 Vagas: Serão ofertadas 20 vagas. Os interessados serão submetidos a uma avaliação, com informações na ficha de inscrição e, se necessário, uma entrevista com os professores responsáveis
1.7. Instituições Envolvidas: Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Filosofia da UFES (CE/UFES); CENTRO DE EDUCAÇÃO/UFES; CEFD/UFES
1.8. Equipe de Trabalho:
Coordenação Administrativa: Prof. Dr. Robson Loureiro (UFES)
Coordenação pedagógica: Profª Drª Sandra Soares Della Fonte (UFES)
Monitoras: Luciana Molina Queiroz (5° período de Filosofia/UFES); Tamiris de Souza Oliveira (8° período de Pedagogia/UFES)
II. Resumo:
O curso tem como foco a introdução aos estudos dos principais clássicos da Teoria Crítica da Sociedade (Escola de Frankfurt) e a inter-relação entre essa abordagem teórica e o campo educacional. Essa opção representa uma decisão acadêmico-política. Diante dos apelos pragmáticos que se impõem à universidade e da atmosfera contemporânea de “aversão à teoria” (ADORNO apud LOUREIRO, 2007), este projeto zela, nos limites das contradições postas, por uma formação cultural ampla e com rigor teórico. Assume-se, assim, que a universidade tem o compromisso com a formação de intelectuais capazes de estabelecer relações entre aquilo que se considera antigo e ultrapassado e o que é concebido como novo e atual.
Justificativa:
O projeto visa dar continuidade ao projeto de curso de extensão Teoria Crítica da Sociedade: diálogos com a filosofia e a educação (Registro PROEX 55202/2008, renovado para 2009), realizado no 1° e 2° semestres de 2009. Uma parcela significativa dos alunos que participaram do curso revelou que para avançar nos estudos da Teoria Crítica da Sociedade seria importante retornar a alguns de seus clássicos inspiradores. Mas, por que ler os clássicos? Poderíamos aqui repetir o que afirma Ítalo Calvino: “A única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos” (CALVINO, 1993, p. 4). É claro que, assim posta, a afirmação parece um tanto enigmática, pois, afinal, por que é preferível lê-los a não lê-los?
Saviani considera que o clássico não se confunde nem com o tradicional, nem se opõe ao moderno; “Clássico, em verdade, é o que resistiu ao tempo” (SAVIANI, 1991, p. 25) porque “é aquilo que se firmou como fundamental, como essencial” (SAVIANI, 1991, p. 21). Ele resiste ao tempo, pelo menos, por uma dupla razão. Ele continua a mobilizar questões e temas, a despeito de quando foi escrito. Nas palavras de Calvino, “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer” (CALVINO, 1993, p. 2). Mas como o clássico preserva essa contemporaneidade? Para Calvino, “É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível” (CALVINO, 1993, p. 4). Ao se imporem como inesquecíveis ou se ocultarem na memória, os clássicos influenciam “mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual” (CALVINO, 1993, p. 1). Portanto, livros ou autores clássicos assim o são porque conseguem condensar a riqueza e a profundidade da objetivação humana em um determinado tempo. Ao conseguirem fazer isso, dialogam com a história futura, pois trazem à baila relações que contribuíram para a constituição do presente e do porvir.
Segundo Calvino, os clássicos só devem ser lidos por amor ou por respeito. A exceção, para o autor, constitui-se no ambiente escolar: “[...] a escola deve fazer com que você conheça bem ou mal um certo número de clássicos dentre os quais (ou em relação aos quais) você poderá depois reconhecer os ‘seus’ clássicos. A escola é obrigada a dar-lhe instrumentos para efetuar uma opção: mas as escolhas que contam são aquelas que ocorrem fora e depois de cada escola” (CALVINO, 1993, p. 3).
Ao seguir essa orientação, este projeto de extensão ratifica que os clássicos configuram-se como substância da formação cultural a ser garantida pela educação escolar (inclusive a universitária), pois é por meio da apropriação e do diálogo com eles que se pode desenvolver a autonomia intelectual.
São dois, os eixos de discussão que orientarão o estudo dos clássicos da Teoria Crítica. O primeiro diz respeito a aspectos filosóficos de sua produção intelectual, em especial sua concepção ontológica e gnosiológica. O segundo consiste na sua contribuição para a compreensão do fenômeno educacional no sentido lato e escolar.
Dentre os vários clássicos que influenciaram a Teoria Crítica, Karl Marx será o primeiro a ser estudado por meio deste projeto de curso de extensão. Por quê? A despeito de outras influências que sofreu, é dentro da tradição do marxismo ocidental que a Teoria Crítica se coloca. Portanto, é essa tradição que constitui a matriz fundamental da Teoria Crítica e a partir da qual a apropriação de outras influências ocorre.
III. Objetivos da Atividade:
4.1 Geral:
Desenvolver estudos sobre filosofia e educação, tendo como interlocutores os principais clássicos inspiradores da Teoria Crítica da Sociedade (Escola de Frankfurt), em especial Karl Marx.
4.2 Específicos:
Analisar a contribuição de Karl Marx no diálogo entre a Teoria Crítica da Sociedade, a Filosofia e o campo educacional;
Evidenciar a atualidades de pressupostos marxianos para o debate filosófico contemporâneo e para a compreensão dos fenômenos educacionais.
IV. Metas
Em 2010/1, o presente curso de extensão tem como meta abordar a teorização marxiana, partindo de aspectos históricos e biográficos de Karl Marx, as fontes inspiradoras de seus estudos (a economia política, a filosofia alemã e o socialismo utópico), obras de sua juventude (com particular destaque para os Manuscritos econômico-filosóficos de 1844) e sua ruptura com os jovens hegelianos (obras como A ideologia alemã e o texto Teses contra Feuerbach).
Em 2010/2, a meta do curso é centrar o estudo em obras como Para crítica da economia política, Crítica do Programa de Gotha e O capital.
V. Metodologia
5.1. Atividades Propostas:
Leitura de livros, periódicos acadêmicos;
Análise de filmes e documentários;
Elaboração de apontamentos sobre o material estudado;
Produção de seminário e artigos acadêmicos.
5.2. Procedimentos:
O curso consiste de dois momentos: 1) Encontros presenciais (quinzenais) com os Professores responsáveis, para debate e aprofundamento do material de estudo sugerido; 2) Trabalhos individuais/coletivos de leitura, estudo, sistematização e elaboração de apontamentos do material de estudo proposto em momento extra-aula.
5.3. Sistemas de Avaliação e Acompanhamento:
A avaliação do curso, dos professores e dos participantes será feita ao longo do ano em especial pelo procedimento dialógico e pelo registro escrito dos participantes. Para efeito de aprovação no curso, serão consideradas: 1) 75% de freqüência nos momentos presenciais; 2) elaboração de artigo acadêmico que problematize algumas das temáticas abordadas e do material utilizado como referência.
VI. Cronograma de Execução: (data de realização/etapas)
1° Módulo: 10.03.2010 a 07.07.2010
2° Módulo: 12.08.2010 a 15.12.2010
VII. Recursos:
7.1. Humanos
Prof. Coordenador-Administrativo – Dr Robson Loureiro (UFES)
Profª Coordenadora-Pedagógica – Drª Sandra Soares Della Fonte (UFES)
Profs Convidados – A serem confirmados;
Monitoras: Luciana Molina Queiroz (Acadêmica 5° período de Filosofia) e Tamiris Souza de Oliveira
7.2. Materiais
Sala de aula;
Equipamento multimídia: aparelho de DVD, computador com mouse, teclado, caixa de som; tela para exibição de imagens;
7.3. Financeiros (indicação da fonte e com planilha de custos, se houver)
O curso será gratuito (não haverá cobrança de qualquer tipo de taxa)
VIII. Resultados Esperados:
A partir dos estudos realizados no curso, o resultado esperado é a organização de uma brochura com os artigos elaborados pelos participantes, cujo objetivo é aprofundar a relação filosofia e educação a partir da teoria marxiana.
IX. Considerações Finais:
A universidade pública brasileira necessita prosseguir e perseguir sua tarefa precípua de formar intelectuais capazes de articular o passado, o presente e o futuro. Em tempos de multiculturalismo e defesa da diferença, é fundamental que a academia não reprima, não discrimine e não exclua, da discussão pública, os clássicos autores que estão na base do pensamento contemporâneo. Não deixa de ser atual a idéia do Filósofo medieval Bernardo de Chartres: “Somos anões empoleirados nos ombros de gigantes. Assim, vemos melhor e mais longe do que eles, não porque nossa vista seja mais aguda ou nossa estatura mais alta, mas porque eles nos elevam até o nível de toda a sua gigantesca altura...”. Quanto mais longe no passado, menos obscuro se torna nosso presente e menos bárbaro nosso futuro.
X Referências Bibliográficas
ADORNO, Theodor Wiesengrund. Lições de sociologia. (Tradução de João Tiago Proença e Manuel Seca de Oliveira). Lisboa: Edições 70, 2004.
______. Negative dialectics. New York/London: Continuum, 2003a.
_____. Educação após Auschwitz. In: ______. Educação e emancipação. (Tradução de Wolgang Leo Maar). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995a. p. 119-138.
______. Progresso. In: ______ . Palavras e sinais: modelos críticos 2. (Tradução de Maria Helena Ruschel). Petrópolis: Vozes, 1995b. p. 37-61.
______. Notas marginais sobre teoria e práxis. In: ______. Palavras e sinais: modelos críticos 2. (Tradução de Maria Helena Ruschel). Petrópolis: Vozes, 1995c. p. 202-229.
______. Observações sobre o pensamento filosófico. In: ______ . Palavras e Sinais: modelos críticos 2. (Tradução de Maria Helena Ruschel). Petrópolis: Vozes, 1995d. p. 15-25.
______. O que significa elaborar o passado. In: ______. Educação e emancipação. (Tradução de Wolgang Leo Maar). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995e. p. 29-50.
______. Tabus acerca do magistério. In: ______. Educação e emancipação. (Tradução de Wolgang Leo Maar). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995f. p. 97-118.
Adorno T. W. Educação e emancipação. In: ______. Educação e emancipação. (Tradução de Wolgang Leo Maar). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995g. p. 169-185.
______. Educação ... para quê? In: ______. Educação e emancipação. (Tradução de Wolfgang Leo Maar). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995h. p. 139-154.
______. Teoria da semicultura. (Tradução de Newton Ramos-de-Oliveira). Araraquara: UNESP, 1992. Mimeografado.
______. La idea de historia natural. In: ______. Actualidad de la filosofia. Barcelona: Paidós, 1991a. p. 103-134.
______. A indústria cultural. In: COHN, Gabriel (Org.). Theodor Adorno: Sociologia. São Paulo: Ática, 1986b. p. 92-99 (Coleção Grandes Cientistas Sociais).
______. Teoria estética. (Tradução de Artur Mourão). São Paulo: Martins Fontes, 1982.
______. Dialectica Negativa. (Versão em espanhol – Tradução de José Maria Ripalda). Madrid: Taurus, 1975.
ADORNO, T. W & HORKHEIMER, Max. Indústria cultural: o iluminismo como mistificação das massas. In: ADORNO, T. Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002. p. 7-80.
______. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. (Tradução de Guido Antônio de Almeida). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. In: ______. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 9-16. Disponível em: <http://www.lumiarte.com/luardeoutono/calvino.html>. Acesso em: 27 março 2005.
LOUREIRO, Robson. Aversão à teoria e indigência da prática: crítica a partir da filosofia de Adorno. Educação & Sociedade, v. 28, n. 99, p. 522-541, 2007. Disponível em:
MAAR, Wolfgang Leo. Adorno: a atualidade da dialética. Margem esquerda: ensaios marxistas. São Paulo: Boitempo, n. 2, p. 112-120, nov. 2003 / maio 2004.
______. À guisa de introdução: Adorno e a experiência formativa. In: ADORNO, T. W. Educação e emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 1995. p. 11- 28.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da Antigüidade aos nossos dias. (Tradução de Gaetano Lo Monaco) 5. ed. São Paulo: Cortez, 1996.
MARX, Karl. Crítica do Programa de Gotha. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1875/gotha/index.htm. Acesso em: 30.05.2007.
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. (Tradução de Jesus Ranieri). São Paulo: Boitempo, 2004.
______. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. In: ______. Os pensadores. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 1-82. v. II.
______. Introdução à crítica da Economia Política. In: ______. Os pensadores. 4. ed. (Tradução de José Arthur Giannotti e Edgar Malagodi). São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 3-25. v. I.
______. O capital: crítica da economia política. (Tradução de Reginaldo Sant’Anna). Livro I. 10. ed. São Paulo: Difel, 1985. v. I.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. São Paulo: Cortez/ Autores Associados, 1991.
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