Olá,
Em continuidade aos trabalhos do curso, e na sequência do nosso cronograma, ontem tivemos a presença (25.03.2010) e o privilégio de assistir à brilhante intervenção do Prof. Dr. Maurício Abdalla Guerrieri, que abordou elementos da filosofia de F. Hegel, uma das principais fontes da filosofia marxiana (de Marx).
A Filosofia de Hegel
Ronie Silveira
Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart na Alemanha em 27 de agosto de 1770 e faleceu em Berlin em 1830. Em 1788 entrou para um seminário de teologia protestante em Tübingen. Nesse seminário travou amizade com Schelling e Hölderlin. Em 1793 Hegel renunciou à profissão de pastor e até 1796 trabalhou como preceptor em Berna, na Suíça. Depois disso, mudou-se para Frankfurt onde permaneceu até 1800 - ainda como preceptor. Em 1801 ingressou como livre-docente da Universidade de Jena e em 1816 foi nomeado professor na Universidade de Heildeberg. Em 1818 transferiu-se para a Universidade de Berlim da qual se tornou reitor em 1829.
O objetivo que impulsionou originalmente a Filosofia de Hegel foi a reconstituição de um ideal cristalizado na imagem da Grécia Antiga. Esse ideal personificava a busca da liberdade. Não a liberdade subjetiva e privada como nós a entendemos hoje. O que esse ideal personificava era uma noção de liberdade completa sem a presença da alteridade e da diferença. Uma liberdade, portanto, que pelas suas próprias características implicava uma consumação ligada ao infinito: sua realização deveria eliminar toda espécie de separação entre as dimensões da vida. Assim, em contraposição a um presente caracterizado pela cisão entre governados e governantes, entre Deus e os homens e entre Política e Religião, a Grécia Antiga representava, para Hegel e muitos de sua geração, um ideal de harmonia e de identidade entre esses vários aspectos. Liberdade, então significava uma vida plena ou o reestabelecimento da juventude perdida da civilização ocidental.
Entretanto, o amadurecimento do pensamento de Hegel conduziu-o a uma posição diferente e antagônica com relação à restauração do mundo grego. A noção de retorno cedeu terreno ao reconhecimento da riqueza e da peculiaridade do presente histórico. Também tornou-se evidente a precariedade da liberdade antiga. Mesmo abandonando a busca pela restauração da Grécia Antiga, o objetivo da liberdade ou da vida plena permaneceu orientando a Filosofia de Hegel em sua formulação definitiva.
Se queremos eliminar toda a exclusão, devemos iniciar por aquela que está presente no modo como o conhecimento ocorre. Assim, o que sei é algo que sei de outra coisa, de algo real. Então, o que sei não é a própria realidade, mas um saber relativo a ela. Todo saber está, portanto, fora do ser. Quando conhecemos produzimos uma alienação, uma diferença entre o saber e o ser. Se entendermos o conhecimento dessa maneira, fazemos proliferar essa diferença e essa alienação. A necessidade de eliminação dessa alienação levou Hegel a formular uma noção muito peculiar de conhecimento. O motivo que leva o conhecimento a se constituir como um saber fora do ser é a consciência. É porque a consciência não é o objeto do conhecimento que sua apreensão do ser produz outra coisa que não o próprio ser. Mesmo quando a consciência reflete sobre si mesma, ela se toma como se fosse outra e, portanto, seu saber sobre si mesma ainda é um saber diferente do que ela é. Mas Hegel não proporá que eliminemos a consciência para evitar a alienação. Isso significaria afirmar que o verdadeiro conhecimento deve ser operado por outras modalidades que não aquelas próprias da consciência – como o sentimento ou a emoção, por exemplo. Hegel não cai nessa armadilha da irracionalidade. Ele afirmará que a consciência deve ser conduzida a um estágio no qual não haja mais a alienação – mas isso deve ser produto do esforço da consciência e não sua negação.
Esse processo pelo qual a consciência parte de um hipotético estado bruto e chega a identificar o saber com o ser é descrito por Hegel na Fenomenologia do Espírito. O saber absoluto é um saber de si, isto é, ele é um conhecimento que não produz um saber exterior àquilo que é conhecido. Para que isso possa ocorrer, o conhecimento não pode ser diferente da realidade ou o contrário: o modo como as coisas são é o mesmo modo pelo qual elas são conhecidas. Mas isso obviamente é muito diferente do conhecimento empírico com o qual estamos habituados a lidar no nosso cotidiano.