quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O Leviatã sobe o Morro

Marcelo Lima 
Mestre e doutore em Educação,
Prof. Adjunto do DEPS/CE/UFES
email: mlufes@gmail.com



Estamos vivendo momentos inéditos na história brasileira. Assim como na passagem do feudalismo para modernidade, quando o liberalismo fez surgir o Estado Democrático de Direito, ente racional e instância de comando capaz de subsumir o poder teocrático da igreja e a capacidade bélica das monarquias decadentes na Europa na passagem dos séculos XVI, XVII e XVIII. Como explica Hobbes, para preservar os membros da sociedade da luta de todos contra todos, em nome da preservação da vida, da propriedade e da liberdade, ergue-se o Leviatã, figura mítica que se afirma na medida em que caça o direito dos indivíduos de resolverem por suas próprias iniciativas e pelo confronto direto, suas diferenças, suas desigualdades e suas discordâncias que passam a se submeterem apenas ao arbitramento da lei.

De modo não tão semelhante, mas de maneira identicamente inédita para cada época, vivemos o alvorecer do Estado brasileiro, sobretudo em lugares onde lei não existia, onde a modernidade e o Estado Democrático de Direito jamais tinha ocorrido. Com moradias ilegais, comércios ilegais e relacionamentos sociais mediados pela força e pela territorialidade, milhões de brasileiros, sobretudo, cariocas viviam e ainda vivem em favelas: lugares de habitações subnormais onde a paz se conquista vez pela violência vez pela subordinação.
Cidadãos brasileiros vivem há décadas sob o julgo dos meninos-senhores feudais do tráfico que com sandálias de dedo, fuzis e roupas de marca obrigam, em cada comunidade, milhares de trabalhadores e pessoas de bem a se submeterem à seus caprichos ocupando suas casas, violentando suas filhas e irmãs e definindo como deva ser o cotidiano de horários e locais desses cidadãos pagadores de impostos que precisam descer para o asfalto para verem funcionar a sagrada constituição brasileira que diz: a) todos são iguais perante a lei, b) todos tenho direito de ir vir e c) ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo se não em virtude da lei etc.

Hoje vemos o Estado subir o morro para exercer uma antiga prerrogativa, como dizia Max Weber: o monopólio legítimo da força sobre a completude do território brasileiro e para a totalidade dos homens e das mulheres desse país, que desde a proclamação da república lhe era devido, por isso o caráter inédito de sua ação. Mas há ainda alguns riscos: essa ação além de ter que ser permanente não pode se render ao espetacular e ao imediato eleitoreiro e virar evento cênico e cínico de governantes que venham se vangloriar de fazer aquilo que há décadas deveriam ter feito.

Outro risco é que no ímpeto hobbesiano, o leviatã venha agredir os direitos daqueles que não por escolha, mas por contingência, são vizinhos das bocas de fumo e de grupos criminosos e situam-se com filhos esposas e amigos num território de guerra e que podem vir a ter sua privacidade, sua intimidade e porque não sua propriedade e, sobretudo, sua segurança inviabilizada por quem deveria protegê-los. Por isso, a imprensa e o poder público devem conclamar os moradores dessas comunidades a abrirem voluntariamente suas casas em nome da pacificação, mas cabe lembrá-los que eles não são obrigados a isso.

Ainda vale lembrar que tudo isso poderá ser em vão se não houver no país uma ação jurídica permanente e abrangente capaz de responsabilizar e punir outros beneficiários - tubarões da lavagem de dinheiro - que vivem ostentando uma riqueza incompatível com suas atividades profissionais. Ou seja, se pudermos obrigar todo cidadão a provar a origem de seu patrimônio, estenderemos o braço do leviatã de Brasília ao complexo do alemão, passando pelos mega sonegadores-contrabandistas e importadores ilegais de armas que vivem nas favelas, mas também residem em muitos condomínios jamais visitados pelo BOPE.
Agora José Padilha terá que fazer um filme brasileiro com happy end tropa de elite III: o Estado contra o crime, pois a realidade ultrapassou a ficção!!!


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

11/11/2010


Universidade Pública e Universidade Popular é tema de debate na Ufes

Na próxima quarta-feira, dia 17/11, a partir das 19 horas, no Salão Rosa, ocorrerá o debate “Universidade Pública e Universidade Popular no Brasil”, com o professor Roberto Leher (UFRJ) e com representante da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). A atividade é uma iniciativa do Curso de Pós-graduação em Economia Política e Desenvolvimento Agrário, realizado numa parceria entre a UFES e a ENFF.


MÚSICA DE CINEMA
MÚSICA ERUDITA
MÚSICA POP Inglaterra
MÚSICA ERUDITA - Ottawa Japão

AMOR E "MATERIALISMO" NA CHINA (COMUNISTA?)12/11/2010
International Herald Tribune
AMOR, MATERIALISMO E CHINA
Didi Kirsten Tatlow
Em Pequim (China)

Encontrando o amor entre as garotas materialistas
Didi Kirsten Tatlow

O dinheiro realmente pode comprar o amor na China – ou pelo menos esta parece ser uma crença comum neste país cada vez mais materialista. Muitas histórias pessoais parecem confirmar que o marido ideal é aquele que pode dar uma casa e um carro, entre outras coisas; o sentimento fica em segundo lugar. Mas apesar desse espírito mercantilista disseminado, nem todos pensam que é uma coisa boa. Uma série de peças, programas de televisão e filmes chineses tem levantado a pergunta: o que é o amor em uma era de crescimento econômico vertiginoso?


Muitos chineses ficaram chocados neste ano quando uma candidata em um popular programa de namoro na TV, “Se Você Fosse a Pessoa Certa”, anunciou: “Eu prefiro chorar em uma BMW do que sorrir em uma bicicleta”. Mas outros insistiram que a candidata, Ma Nuo, atualmente conhecida como a “mulher BMW”, estava apenas expressando uma realidade social.

A alta dos preços dos imóveis nos últimos anos contribuiu para esses sentimentos, com muitas pessoas em Pequim e em outras cidades aceitando a ideia de que uma mulher buscará o relacionamento com um homem apenas se ele já for dono de um apartamento.

Feng Yuan, 26 anos, que trabalha em uma empresa de educação do governo, tentou unir uma amiga a um homem que ela considerava um bom candidato.

“Quando ela soube que ele não era dono de um apartamento, ela nem mesmo quis conhecê-lo”, lembrou Feng. “Ela disse: ‘Qual o sentido? Sem um apartamento, o amor não é possível’.”

O medo alimenta essa postura. Após três décadas de crescimento rápido e desigual, há uma enorme ansiedade entre aqueles que sentem que estão ficando para trás, carentes de oportunidades e contatos para ganhar muito dinheiro, enquanto à volta deles outros prosperam e os preços sobem.

O novo credo pode ser duro, como um organizador de eventos culturais de 26 anos descobriu. O homem, que pediu anonimato para proteger sua privacidade, ganha cerca de 4 mil yuans, ou US$ 600, por mês, o que deixa fora de seu alcance até mesmo um apartamento modesto em um bairro deselegante de Pequim. Esses imóveis podem custar cerca de US$ 3 mil por metro quadrado. A inflação imobiliária é severa. Há dez anos, um apartamento semelhante custava aproximadamente US$ 345 por metro quadrado. Em vez disso, ele tentou impressionar sua namorada por três anos economizando por um ano para comprar um iPhone 3. O iPhone 4 mais novo –um alto símbolo de status– tinha acabado de ser lançado. Mas custando US$ 900, estava além do seu poder aquisitivo.

O telefone não bastou. Na semana passada, ela o deixou, citando a pressão de seus pais para encontrar um companheiro mais rico.

Ele está de coração partido, acreditando que, apesar de tudo, sua namorada realmente o amava. “Por que mais ela ficou comigo por três anos?” –apesar de morarem em um apartamento alugado. Mas ele também é filosófico.

“Eu entendo a situação dela e a pressão de sua família”, ele disse. “Eu também entendo que os pais dela querem que sua filha encontre alguém que possa dar a ela uma vida melhor.”

A única forma de encontrar o amor, ele disse, é ficar rico. “O mais importante para mim agora é trabalhar e ganhar mais”, disse. “Eu preciso ficar mais forte, sustentar a mim e aos meus pais, e então minha futura namorada poderá ter uma boa vida.”

Mas esses cálculos têm seus críticos. A postura durona de Ma, a mulher BMW, lhe rendeu uma leve reprimenda do diretor de cinema Zhang Yimou. Em uma entrevista no “The South China Morning Post”, um jornal de Hong Kong, ele pediu aos jovens que repensem seus valores.

“Eu não acho que o progresso econômico e a busca pelo amor excluem um ao outro”, ele disse.

Zhang, que fará 59 anos no domingo, representa uma geração mais velha que lembra de uma era maoísta mais igualitária, apesar de mais pobre e mais politicamente repressiva, antes das mudanças econômicas que causaram a luta pela promoção material.

Seu mais recente filme, “Under the Hawthorn Tree” (sob o espinheiro branco) descreve o amor inocente entre uma professora Jing Qiu, e um geólogo, Lao San. Situado em 1975, perto do final da Revolução Cultural, e sem nenhuma BMW em vista, o filme mostra a professora passando bastante tempo sorrindo na bicicleta de seu namorado. O amor é o lance, conclui o filme.

Outras produções se juntaram ao debate.

“Fight the Landlord” (combatendo o senhorio), uma peça de Sun Yue, que estreou em Xangai no mês passado, é outra defesa do amor em uma era de materialismo.

Uma personagem conhecida como B, importunada por uma sogra potencial a respeito de sua renda ordinária, grita: “Não pense que por eu não ter nada do que me orgulhar, você pode me insultar e me destruir!”

“Eu tenho minha dignidade e orgulho”, diz B, “e não quero transformar o amor, que prezo tanto, em algo vulgar e pálido!”

Um novo filme, “Color Me Love”, celebra o culto do materialismo, mas também termina meio que do lado do amor. Inspirado em “O Diabo Veste Prada” e commerchandising de produtos da Hermès, Versace e Diesel, ele conta a história da pobre e bela Fei ao chegar a Pequim como estagiária de uma revista de moda.

“Fei, um dia você entenderá”, alerta Zoe, sua editora glamourosa. “Nada é mais importante do que a pessoa com quem você passará o restante de sua vida.”

Um namoro tumultuado com um artista amalucado chamado Yihong acaba com o casal unido em Nova York. A imagem final a mostra nos braços dele, com um diamante no dedo. A verdadeira fantasia, talvez, seja amor com dinheiro.

Feng, que não conseguiu encontrar um par para sua amiga sem apartamento, disse que as exigências que muitas mulheres chinesas fazem aos seus potenciais pretendentes refletem fraqueza, não poder. Inferiores em status, elas temem não conseguir o que querem na vida, e procuram homens que possam propiciar isso a elas.

“As mulheres são muito dependentes”, ela disse. “A culpa é delas. Por que não podem trabalhar duro e comprar uma casa junto com seu homem? Mas muito poucas mulheres pensam assim atualmente.”

Assim como poucos homens chineses, reforçando as regras do jogo. Para o organizador de eventos de 26 anos, perder seu amor para o dinheiro foi justificado.

“Nós não precisávamos perder tempo em um relacionamento que estava condenado ao fracasso”, ele disse.
Tradução: George El Khouri Andolfato






segunda-feira, 8 de novembro de 2010

PRÓXIMO ENCONTRO

A próxima reunião/encontro do curso 5ªs Filosóficas será dia 18.11.2010.

MANIFESTAÇÃO ESTUDANTIL EM LONDRES
Música moderna

sábado, 30 de outubro de 2010

Por que Marx não era positivista?

Por que Marx não era Positivista?
 
 
O cinismo da razão desprovida de razão vigora no ambiente acadêmico e considera Marx positivista. Abaixo, alguns apontamentos contra essa razão cínica que age à revelia do conhecimento. Abaixo, alguns apontamentos que refutam essa tese.
 
Para o positivismo de Augusto Comte, o estado positivo (a ciência, a indústria e o capitalismo) e as ciências do homem (ciências humanas), em particular a Física Social ou Sociologia, operam com leis universais e necessárias. A sociedade tem leis, tal como as leis da natureza. Compreender o funcionamento dessas leis é poder controlar e prever os acontecimentos sociais. Há uma ordem na natureza e essa ordem deve acompanhar o funcionamento da sociedade; só haverá progresso se houver ordem. Isso significa que não é possível modificar situações de opressão social, de exploração de uma classe por outra, tal como defendera Marx. O que se espera é que haja harmonização dos conflitos sociais, dar continuidade ao estado de exploração e opressão de uma classe social sobre a outra. Para o fundador do positivismo, o que vale é a manutenção da ordem social estabelecida. O capitalismo é, pois, o � �ltimo estágio, o ápice da evolução do pensamento da humanidade. Em outras palavras, Comte acreditava na submissão dos trabalhadores aos capitalistas, de tal forma, que sua doutrina positivista cumpriria a função reguladora e preparadora dos proprietários capazes de convencer os trabalhadores a respeitarem e mesmo reforçar "as leis naturais" da concentração do poder e da riqueza. Marx, no primeiro livro de O Capital, escreveu: “Augusto Comte e sua escola procuraram demonstrar a eterna necessidade dos senhores do capital; eles queriam tão bem quanto e com as mesmas razões, demonstrar a eterna necessidade dos senhores feudais” (p. 631). Ao invés de leis deterministas, que operam dentro da lógica formal, Marx afirmou que o que há são leis de tendência.
 
Para Marx, a história não é concebida como o desenvolvimento linear do pensamento, mas, da ação dinâmica e contraditória dos conflitos vivos entre grupos sociais. Marx não pretende, assim como Comte, criar uma teoria de reconstrução das crenças morais da sociedade. Enquanto Comte deseja manter os interesses e conquistas dos burgueses, dos capitalistas e argumenta que os trabalhadores devem manter-se resignados e aprender com as mulheres (consideradas naturalmente inferiores e fracas em relação aos homens), Marx, ao contrário, defendeu ativamente a emancipação geral: não de um indivíduo, grupo, etnia, classe social ou casta. Ele apenas identificou que essa emancipação geral não seria alcançada por nenhuma lei da boa vontade e não chegaria dos céus, mas, deveria haver um processo de enfrentamento das forças hegemônicas (políticas e econômicas).
 
Marx opera no âmbito de uma ontologia do ser social e Comte a partir de uma teologia profana e de uma ciência ideologizada - cientificismo - a partir de uma lógica formal que concebe a história como algo linear, cumulativa, que caminha sempre para o melhor e da ideia de neutralidade científica.

Marx, diferente de Comte, considera que a ciência não está acima do bem e do mal, portanto não é neutra mas é apropriada pelos interesses hegemônicos (econômicos e políticos) da sociedade. A partir de Hegel, ele concebe a história como sendo produzida por homens e mulheres em condições determinadas de produção social da existência que por sua vez também determinam a existência individual. Portanto, enquanto Comte afirma que a história é fruto da evolução do espírito ou pensamento humano, Marx considera que a história é o resultado de forças opostas que se enfrentam no ambito dos antagonismos presentes na produção e nas relações de produção. Nesse sentido, não é o pensamento, não é a ideia que produz o mundo, mas o contrário, o mundo que efetivamente existe - o mundo social e natural - é que produz o pensamento e as ideias.

Para ele a dialética - tese, antítese, síntese - opera por meios de categorias próprias da realidade social, dentre elas a contradição ou princípio da contradição. A apropriação do conhecimento científico e tecnológico pela classe que detém os meios de produção da existência social, ao invés de produzir uma sociedade mais plena, com progresso para todos, ao contrário, produz a danificação da vida de milhares de pessoas e da própria natureza como um todo. Assim, enquanto o positivista Augusto Comte defende a harmonia social, ou seja, a ordem institucional, que significa obediência às leis do Estado burguês, o materia lista e dialético Marx, pelo contrário, afirma que a realidade é movida pelo conflito que gera a transformação para algo novo. Sendo assim, ele é contra qualquer tipo de opressão social e a divisão da sociedade em classes sociais com interesses antagônicos e divergentes.

Mas, como disse no início, talvez, o que vigora, aquilo que é mais senso comum, até mesmo entre alguns intelectuais, são argumentos falaciosos que tentam desmerecer a filosofia de Marx que, com certeza, apresenta pontos que merecem ser devidamente criticados, mas a partir de um esforço acadêmico que transpõe o cômodo lugar da reprodução sensocomunizada de determinadas falácias. Por essa razão, considerar Marx positivista é, definitivamente, no mínimo, preguiça intelectual. Esse tipo de preguiça não acomete apenas a intelligentsa nacional, mas, é fenômeno internacional.

sábado, 23 de outubro de 2010

Encontro dia 28.10.2010 - Por que Marx não era positivista?


Foto de Sebastião Salgado
No nosso próximo encontro daremos continuidade às discussões em torno dos seguintes temas e, o Hauseaufgaben - "dever de casa" será:

1) Por que Marx não era positivista? Evidenciar elementos que deslegitimam a tese, muito recorrente por parte de intelectuais que tentam desqualificar a teoria marxiana (de Marx), de que Marx era positivista;
2) Eleger um problema a partir dos textos estudados, dos debates/discussões ao longo do curso para produzir o artigo. Lembrar que o prazo para entregar esse artigo deve ser até o final do mês de novembro (informações sobre a formatação seguem abaixo)

OUTROS

Prosseguiremos com a discussão em torno da relação entre estrutura e superestrutura.

INFORMAÇÕES SOBRE A FORMATAÇÃO DO ARTIGO (p/ o final de novembro)

Mínimo de cinco, máximo 10 laudas (páginas). Fonte Times NewRoman, tamanho 12. Espaço 1.5 entre linhas. Margens: 2.5, esq/dir e sup/inf.
Título do trabalho centralizado. Abaixo (3 toques) nome do/a autor/a
Resumo: máximo dez linhas (conter o problema, o objetivo, alguma possível hipótese reflexiva, resultados da reflexão)
Palavras-chave: três a cinco

Na introdução, é interessante indicar o percurso (narrativa de construção) do problema e qual o objetivo do artigo e se há alguma hipótese que sustenta a reflexão proposta. Apontar a lógica argumentativa utilizada para a produção do artigo.






quinta-feira, 5 de agosto de 2010

CALENDÁRIO DO CURSO 5ªs FILOSÓFICAS 2010.2

Nosso primeiro encontro, nesse semestre (2010/2), será na próxima 5ª feira, dia 12.08, na sala 25 - IC-IV, 2º piso.

CALENDÁRIO 2010.2

12 e 26.08.2010
09 e 23.09.2010 - Sala 4 IC-IV
07 e 21.10.2010 - Sala 4 IC-IV

04 e 18.11.2010 - Sala 4 IC-IV

02.12.2010 - Sala 4 IC-IV

TEXTO PARA DEBATE

Feuerbach - Oposição entre concepção materialista e idealista, p. 183-214 - In: Marx e Engels: História. [Organização de Florestan Fernandes] 3. ed. São Paulo: Ática, 1989. Está na pasta do curso, na fotocopiadora do IC-IV.
Bons estudos!
Att,
Prof. Robson
Profª Sandra


domingo, 16 de maio de 2010

Próximas Reuniões do Curso de Extensão - 27.05 e 03.06.2010

Prometeu acorrentado
Nicolas Sebastien Adam (1762)


ATENÇÃO

Nossas próximas reuniões serão nos dias 27.05 e 03.06.2010, nas quais daremos continuidade à leitura e estudo dos Manuscritos.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

TRADUTORE - TRAIDORE

Já é quase senso comum aquela célebre máxima latina, que muito incomoda os intelectuais - tradutore, traidore. Isto é, a tradução é uma potencial traição à língua original da obra. Nesse sentido, fizemos a opção de apresentar a tradução dos Manuscritos Econômico-Filosóficos publicado pela BoiTempo Editorial, pois, em princípio, trata-se de um trabalho bem organizado, o que não significa que não haja problemas, como em toda e qualquer traição, digo, tradução. Sem contar, também, que teríamos que fragmentar muito o trabalho de fotocopiar os textos.
Comentários sobre a tradução do Jesus Ranieri, de algumas breves passagens dos Manuscritos (BoiTempo Editorial) e comparação com a tradução da equipe do Florestan Fernandes, publicação da Editora Ática (Marx/Engels – História, Coleção Grandes Cientistas Sociais).

  • BoiTempo - p. 79 – Trabalho estranhado [Die entfremdete Arbeit] –
- Florestan - na tradução realizada por Florestan Fernandes, Viktor Von Ehrenreich, Flávio René Kothe, Régis Barbosa e Mário Curvello, da coleção Grandes Cientistas Sociais (Ática), eles optaram por traduzir entfremdete Arbeit por Trabalho Alienado, ao invés de Trabalho Estranhado.
  • BoiTempo - Ainda na p. 79 / XXII /, onde se lê “Partimos dos pressupostos da economia nacional” (Wir sind ausgegangen von den Voraussetzungen der Nationalökonomie) –
- Florestan - Essa passagem ficou assim traduzida, na edição organizada e traduzida pelo Florestan Fernandes: Partimos dos pressupostos da Economia Política. Se a tradução fosse ipsis literis (ao pé da letra), Nationalökonomie deveria ser economia nacional. Não obstante, Marx referia-se á Economia Política. Nesse sentido, a “traição” realizada pela equipe do Florestan parece ser mais apropriada.

Tudo indica que, nessas duas passagens, a tradução menos traidora do sentido é a da equipe do Florestan. Quem tiver interesse em ler o original, acessar Ökonomisch-philosophische Manuskripte (MARX, Karl).

Essas observações não desmerecem, em hipótese alguma, o trabalho realizado por Jesus Ranieri, tradutor dos Manuscritos publicado pela BoiTempo. As observações aqui apresentadas expressam apenas a dificuldade que é a atividade de tradução e como ela envolve uma dimensão existencial, política, cultural, afetiva que vai além da mera transposição de expressões de uma língua para outra. 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Próxima reunião Quintas Filosóficas - 06.05.2010 (Sala 4 - IC-IV/CE)

No encontro de ontem fomos presenteados com a participação especial dos professores Vinícius e Rogério que realizaram uma qualificada intervenção no tratamento da temática sobre a Economia Política e as influências teóricas de Marx, no âmbito da economia.
Para o próximo encontro (06.05), a discussão será em torno dos manuscritos econômico-filosóficos (material encontra-se na fotocopiadora do IC-IV, no CE/UFES).
***
É fundamental a leitura prévia do material para que possamos acompanhar a exposição e o debate.
****
Por mais que tenhamos a ansiedade de prospectivar os problemas, propomos uma atenção especial ao texto e à compreensão do mesmo. Isso não significa que a prospecção não seja importante, mas, que o zelo na compreensão dos elementos, conceitos, categorias presentes nos argumentos do autor são condição sine qua non para qualquer manifestação especulativa (se: passado ou futuro), criativa (produção de novos conceitos), imaginativa (construção de intuições imagéticas). Aliás, aí está um dos segredos de Marx, a interlocução com os intelectuais de seu tempo, mas, a partir de uma perspectiva de apropriação, incorpore-ação de categorias analíticas, conceitos, etc. Não obstante, isso não é mérito apenas de Marx, mas de tantos outros intelectuais, filósofos, artistas, cientistas etc.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Texto base para a reunião do dia 22.04.2010

Nosso próximo encontro será coordenado pelos Profs. Vinícius Vieira Pereira e Prof. Dr. Rogério Faleiros. O Professor Vinícius é bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Mato Grosso e Mestre em Economia pela UFES. Atualmente desenvolve pesquisa na área de  História Econômica e ministra a disciplina Formação e desenvolvimento do capitalismo no curso de Ciências Econômicas da UFES. O Professor Faleiros é formado em História pela Unesp, com mestrado e doutorado em Economia pela Unicamp, também desenvolve pesquia na área de História Econômica/Desenvolvimento Econômico e ministra as disciplinas Formação Econômica do Capitalismo Contemporâneo e Pensamento Econômico Político e Social Brasileiro. O Professor Rogério propõe  O pioneirismo de Smith, como texto introdutório à discussão que será realizada.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Próximos encontros das QUINTAS FILOSÓFICAS - Clássicos da Teoria Crítica da Sociedade: diálogos com a filosofia e a educação a partir de Marx

Encontro do dia 22.04.2010 - Economia política inglesa
Para reforçar, o encontro do dia 22.04.2010 será na sala 4, 1° piso do IC-IV, Centro de Educação - 14h às 18h. Teremos como convidado o Professor Vinícius e Prof. Rogério, ambos do Curso de Ciências Econômicas da UFES.

Encontro do dia 06.05.2010 - Manuscritos econômico-filosóficos

Os textos relativos aos Manuscritos econômico-filosóficos já estão na pasta do curso Quintas Filosóficas, na fotocopiadora do Márcio, no 1° piso do IC-IV. O fato de haver diferença nas traduções requer cuidado no momento de escolher a editora. Nesse sentido, a edição que vamos utilizar é da Boitempo Editorial, com tradução de Jesus Ranieri. Os textos são:

1) Trabalho estranhado e propriedade privada, p. 79-90;
2) Complemento ao caderno II, página XXXVI [Propriedade privada e trabalho], p. 103-114;
3) p. 126-137;
4) Propriedade privada e carências, p. 139-144.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Alteração na Programação - Socialistas Utópicos para dia 08.04.2010


No nosso próximo encontro, dia 08.04.2010, a discussão será em torno dos SOCIALISTAS UTÓPICOS. No dia 22.04.2010 finalizamos as Três fontes do marxismo com A ECONOMIA POLÍTICA INGLESA.


  • Por favor, leiam com atenção as mensagens de email, para que não haja problemas de compreensão e conflito de informações.
  • Quem tiver interesse em aprofundar leituras acessar: http://www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/bibliotecavirtual.html,ou http://www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/numante.html; http://textosmarxistas.blogs.sapo.pt/9972.html


sexta-feira, 26 de março de 2010

ENCONTRO DO DIA 25.03.2010 - Prof. Dr. Maurício Abdalla

Olá,

Em continuidade aos trabalhos do curso, e na sequência do nosso cronograma, ontem tivemos a presença (25.03.2010) e o privilégio de assistir à brilhante intervenção do Prof. Dr. Maurício Abdalla Guerrieri, que abordou elementos da filosofia de F. Hegel, uma das principais fontes da filosofia marxiana (de Marx).
  • TEXTOS SOBRE HEGEL

A Filosofia de Hegel

  
Ronie Silveira

Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart na Alemanha em 27 de agosto de 1770 e faleceu em Berlin em 1830. Em 1788 entrou para um seminário de teologia protestante em Tübingen. Nesse seminário travou amizade com Schelling e Hölderlin. Em 1793 Hegel renunciou à profissão de pastor e até 1796 trabalhou como preceptor em Berna, na Suíça. Depois disso, mudou-se para Frankfurt onde permaneceu até 1800 - ainda como preceptor. Em 1801 ingressou como livre-docente da Universidade de Jena e em 1816 foi nomeado professor na Universidade de Heildeberg. Em 1818 transferiu-se para a Universidade de Berlim da qual se tornou reitor em 1829.

O objetivo que impulsionou originalmente a Filosofia de Hegel foi a reconstituição de um ideal cristalizado na imagem da Grécia Antiga. Esse ideal personificava a busca da liberdade. Não a liberdade subjetiva e privada como nós a entendemos hoje. O que esse ideal personificava era uma noção de liberdade completa sem a presença da alteridade e da diferença. Uma liberdade, portanto, que pelas suas próprias características implicava uma consumação ligada ao infinito: sua realização deveria eliminar toda espécie de separação entre as dimensões da vida. Assim, em contraposição a um presente caracterizado pela cisão entre governados e governantes, entre Deus e os homens e entre Política e Religião, a Grécia Antiga representava, para Hegel e muitos de sua geração, um ideal de harmonia e de identidade entre esses vários aspectos. Liberdade, então significava uma vida plena ou o reestabelecimento da juventude perdida da civilização ocidental.

Entretanto, o amadurecimento do pensamento de Hegel conduziu-o a uma posição diferente e antagônica com relação à restauração do mundo grego. A noção de retorno cedeu terreno ao reconhecimento da riqueza e da peculiaridade do presente histórico. Também tornou-se evidente a precariedade da liberdade antiga. Mesmo abandonando a busca pela restauração da Grécia Antiga, o objetivo da liberdade ou da vida plena permaneceu orientando a Filosofia de Hegel em sua formulação definitiva.
Se queremos eliminar toda a exclusão, devemos iniciar por aquela que está presente no modo como o conhecimento ocorre. Assim, o que sei é algo que sei de outra coisa, de algo real. Então, o que sei não é a própria realidade, mas um saber relativo a ela. Todo saber está, portanto, fora do ser. Quando conhecemos produzimos uma alienação, uma diferença entre o saber e o ser. Se entendermos o conhecimento dessa maneira, fazemos proliferar essa diferença e essa alienação. A necessidade de eliminação dessa alienação levou Hegel a formular uma noção muito peculiar de conhecimento. O motivo que leva o conhecimento a se constituir como um saber fora do ser é a consciência. É porque a consciência não é o objeto do conhecimento que sua apreensão do ser produz outra coisa que não o próprio ser. Mesmo quando a consciência reflete sobre si mesma, ela se toma como se fosse outra e, portanto, seu saber sobre si mesma ainda é um saber diferente do que ela é. Mas Hegel não proporá que eliminemos a consciência para evitar a alienação. Isso significaria afirmar que o verdadeiro conhecimento deve ser operado por outras modalidades que não aquelas próprias da consciência – como o sentimento ou a emoção, por exemplo. Hegel não cai nessa armadilha da irracionalidade. Ele afirmará que a consciência deve ser conduzida a um estágio no qual não haja mais a alienação – mas isso deve ser produto do esforço da consciência e não sua negação.
Esse processo pelo qual a consciência parte de um hipotético estado bruto e chega a identificar o saber com o ser é descrito por Hegel na Fenomenologia do Espírito. O saber absoluto é um saber de si, isto é, ele é um conhecimento que não produz um saber exterior àquilo que é conhecido. Para que isso possa ocorrer, o conhecimento não pode ser diferente da realidade ou o contrário: o modo como as coisas são é o mesmo modo pelo qual elas são conhecidas. Mas isso obviamente é muito diferente do conhecimento empírico com o qual estamos habituados a lidar no nosso cotidiano.


A TEORIA CRÍTICA VAI AO CINEMA



LOUREIRO, Robson & ZUIN, Antônio Álvaro Soares (Orgs.)

 
Publicação: 2010
Páginas: 233
Acessar: http://www.secretariadecultura.ufes.br/editora_catalogo.php?id_menu=47






INDÚSTRIA CULTURAL E EDUCAÇÃO EM TEMPOS "PÓS-MODERNOS"



Autores: Robson Loureiro/Sandra S. Della Fonte;
Editora: Papirus Editora Edição: 01
Área: Educação
Coleção: Papirus educação Código: 978853080713 ISBN: 85-308-0713-8
Lançamento: 30/05/2003
Ano 1ª Edição: 2003
Acabamento: Colado e costurado
Encadernação: brochura
Nº Páginas: 112 Orelha: Sim
Público Alvo: Acadêmicos do campo das Ciências Humanas, Filosofia e Artes

  • Sinopse

Quando se tenta caracterizar a sociedade contemporânea, geralmente se recorre ao termo "pós-moderno". Estamos vivendo em uma era de acelerado desenvolvimento tecnológico, em que a máquina perdeu seu lugar de destaque para a informação. Jogos eletrônicos, programas televisivos, vídeos e Internet passaram a fazer parte de nosso cotidiano, disseminando idéias, conhecimentos, hábitos, juízos éticos e estéticos que influenciam nossa maneira de ver e de lidar com a realidade. Nesse livro, os autores refletem sobre os desafios enfrentados pela educação escolar nesse cenário. Inserida na lógica da indústria cultural, a produção imagética acaba por transmitir valores vinculados ao consumo. Uma leitura crítica da imagem implica a decodificação dos interesses sociais nela presentes e a possibilidade de outras leituras, de interpretações variadas. Dentro dos limites que enfrenta e das contradições sociais existentes, a escola deve participar do esforço de formação de cidadãos críticos, conscientes, na contracorrente das forças de mercantilização da cultura e da vida.

  • Sumário
INTRODUÇÃO


1. EDUCAÇÃO EM "TEMPO PÓS-MODERNO": QUE TEMPO É ESSE?


O discurso pós-moderno na educação
Sobre o conceito de pós-modernidade
Pós-modernidade: O mal-estar na modernidade


2. O PAPEL PEDAGÓGICO DOS MEDIA IMAGÉTICO-ELETRÔNICOS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA


A mundialização da imagem
A fetichização da mídia imagético-eletrônica
Mídia imagético-eletrônica: O fetiche da imagem e a pseudo-democracia ocidental
Os monopólios televisivos no Brasil


3. INDÚSTRIA CULTURAL E EDUCAÇÃO: ENTRE A FORMAÇÃO E A SEMIFORMAÇÃO


Indústria cultural: Rastreando o conceito
Os pequenos cidadãos-clientes
Pokemon: O filme
Indústria cultural e a lógica do mercado: Consumo, logo existo!
Crítica à passividade total: O espectador e a indústria cultural

4. INDÚSTRIA CULTURAL E EDUCAÇÃO: É POSSÍVEL UMA EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS?

Os sentidos humanos: Rumo a uma educação estética
Estética e a "era da imagem"
Cinema e a "educação do olhar"
Notas sobre o cinema na teoria crítica
Educação escolar e lazer

CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS







sábado, 20 de março de 2010

INFORMES


  • MONITORAS DO NEPEFIL
Esquecemos de apresentar a Luciana, que também, junto com Tamiris, é monitora do NEPEFIL.

  • BLOG DO CURSO: Para quem desejar refrescar a memória, pode conferir http://classicosdateoriacritica.blogspot.com/ - em particular:
• PROJETO DE CURSO QUINTAS FILOSÓFICAS - Os clássico...

• SÉCULO XIX - ASPECTOS HISTÓRICOS

• Karl Marx - Apontamentos Biográficos

• CARTA DE KARL MARX AO PAI EM TRIER - 1837

  • PRÓXIMO ENCONTRO: 25.03.2010 - Teremos a participação de mais um colega/Professor, fundador do NEPEFIL. Ele vai tecer considerações sobre a Filosofia de F. Hegel;

  • ATENÇÃO: Nosso próximo encontro será na sala 25, 2° piso do prédio do IC-IV, Centro de Educação. A sala 25 é a última do corredor, no 2° piso próxima ao toilet masculino. Solicitamos chegar no horário, 14h.

Boaventura de Souza Santos - Guinada à esquerda?

Carta Maior
Quarta-feira, 24 de setembro de 2008
DEBATE ABERTO

Boaventura de Sousa Santos

  • O impensável aconteceu
O Estado deixou de ser o problema para voltar a ser a solução; cada país tem o direito de fazer prevalecer o que entende ser o interesse nacional contra os ditames da globalização; o mercado não é, por si, racional e eficiente, apenas sabe racionalizar a sua irracionalidade e ineficiência enquanto estas não atingirem o nível de auto-destruição.

A palavra não aparece na mídia norte-americana, mas é disso que se trata: nacionalização. Perante as falências ocorridas, anunciadas ou iminentes de importantes bancos de investimento, das duas maiores sociedades hipotecárias do país e da maior seguradora do mundo, o governo dos EUA decidiu assumir o controle direto de uma parte importante do sistema financeiro.
A medida não é inédita, pois o Governo interveio em outros momentos de crise profunda: em 1792 (no mandato do primeiro presidente do país), em 1907 (neste caso, o papel central na resolução da crise coube ao grande banco de então, J.P. Morgan, hoje, Morgan Stanley, também em risco), em 1929 (a grande depressão que durou até à Segunda Guerra Mundial: em 1933, 1000 norte americanos por dia perdiam as suas casas a favor dos bancos) e 1985 (a crise das sociedades de poupança).
O que é novo na intervenção em curso é a sua magnitude e o fato de ela ocorrer ao fim de trinta anos de evangelização neoliberal conduzida com mão de ferro a nível global pelos EUA e pelas instituições financeiras por eles controladas, FMI e o Banco Mundial: mercados livres e, porque livres, eficientes; privatizações; desregulamentação; Estado fora da economia porque inerentemente corrupto e ineficiente; eliminação de restrições à acumulação de riqueza e à correspondente produção de miséria social.
Foi com estas receitas que se 'resolveram' as crises financeiras da América Latina e da Ásia e que se impuseram ajustamentos estruturais em dezenas de países. Foi também com elas que milhões de pessoas foram lançadas no desemprego, perderam as suas terras ou os seus direitos laborais, tiveram de emigrar.
À luz disto, o impensável aconteceu: o Estado deixou de ser o problema para voltar a ser a solução; cada país tem o direito de fazer prevalecer o que entende ser o interesse nacional contra os ditames da globalização; o mercado não é, por si, racional e eficiente, apenas sabe racionalizar a sua irracionalidade e ineficiência enquanto estas não atingirem o nível de auto-destruição; o capital tem sempre o Estado à sua disposição e, consoante os ciclos, ora por via da regulação ora por via da desregulação. Esta não é a crise final do capitalismo e, mesmo se fosse, talvez a esquerda não soubesse o que fazer dela, tão generalizada foi a sua conversão ao evangelho neoliberal.
Muito continuará como dantes: o espírito individualista, egoísta e anti-social que anima o capitalismo; o fato de que a fatura das crises é sempre paga por quem nada contribuiu para elas, a esmagadora maioria dos cidadãos, já que é com seu dinheiro que o Estado intervém e muitos perdem o emprego, a casa e a pensão.
Mas muito mais mudará. Primeiro, o declínio dos EUA como potência mundial atinge um novo patamar. Este país acaba de ser vítima das armas de destruição financeira massiça com que agrediu tantos países nas últimas décadas e a decisão 'soberana' de se defender foi afinal induzida pela pressão dos seus credores estrangeiros (sobretudo chineses) que ameaçaram com uma fuga que seria devastadora para o actual american way of life.
Segundo, o FMI e o Banco Mundial deixaram de ter qualquer autoridade para impor as suas receitas, pois sempre usaram como bitola uma economia que se revela agora fantasma. A hipocrisia dos critérios duplos (uns válidos para os países do Norte global e outros válidos para os países do Sul global) está exposta com uma crueza chocante. Daqui em diante, a primazia do interesse nacional pode ditar, não só proteção e regulação específicas, como também taxas de juro subsidiadas para apoiar indústrias em perigo (como as que o Congresso dos EUA acaba de aprovar para o setor automóvel).
Não estamos perante uma desglobalização mas estamos certamente perante uma nova globalização pós-neoliberal internamente muito mais diversificada. Emergem novos regionalismos, já hoje presentes na África e na Ásia mas sobretudo importantes na América Latina, como o agora consolidado com a criação da União das Nações Sul-Americanas e do Banco do Sul. Por sua vez, a União Européia, o regionalismo mais avançado, terá que mudar o curso neoliberal da atual Comissão sob pena de ter o mesmo destino dos EUA.
Terceiro, as políticas de privatização da segurança social ficam desacreditadas: é eticamente monstruoso que seja possível acumular lucros fabulosos com o dinheiro de milhões trabalhadores humildes e abandonar estes à sua sorte quando a especulação dá errado. Quarto, o Estado que regressa como solução é o mesmo Estado que foi moral e institucionalmente destruído pelo neoliberalismo, o qual tudo fez para que sua profecia se cumprisse: transformar o Estado num antro de corrupção.
Isto significa que se o Estado não for profundamente reformado e democratizado em breve será, agora sim, um problema sem solução. Quinto, as mudanças na globalização hegemônica vão provocar mudanças na globalização dos movimentos sociais que vão certamente se refletir no Fórum Social Mundial: a nova centralidade das lutas nacionais e regionais; as relações com Estados e partidos progressistas e as lutas pela refundação democrática do Estado; contradições entre classes nacionais e transnacionais e as políticas de alianças.
Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3981

Sobre a crise financeira do capitalismo - Karl Marx




"Em um sistema de produção em que toda a trama do processo de reprodução repousa sobre o crédito, quando este cessa repentinamente e somente se admitem pagamentos em dinheiro, tem que produzir-se imediatamente uma crise, uma demanda forte e atropelada de meios de pagamento.

Por isso, à primeira vista, a crise aparece como uma simples crise de crédito e de dinheiro líquido. E, em realidade, trata-se somente da conversão de letras de câmbio em dinheiro. Mas essas letras representam, em sua maioria, compras e vendas reais, as quais, ao sentirem a necessidade de expandir-se amplamente, acabam servindo de base a toda a crise.
Mas, ao lado disto, há uma massa enorme dessas letras que só representam negócios de especulação, que agora se desnudam e explodem como bolhas de sabão, ademais, especulações sobre capitais alheios, mas fracassadas; finalmente, capitais-mercadorias desvalorizados ou até encalhados, ou um refluxo de capital já irrealizável. E todo esse sistema artificial de extensão violenta do processo de reprodução não pode corrigir-se, naturalmente. O Banco da Inglaterra, por exemplo, entregue aos especuladores, com seus bônus, o capital que lhes falta, impede que comprem todas as mercadorias desvalorizadas por seus antigos valores nominais.
No mais, aqui tudo aparece invertido, pois num mundo feito de papel não se revelam nunca o preço real e seus fatores, mas sim somente barras, dinheiro metálico, bônus bancários, letras de câmbio, títulos e valores.
E esta inversão se manifesta em todos os lugares onde se condensa o negócio de dinheiro do país, como ocorre em Londres; todo o processo aparece como inexplicável, menos nos locais mesmos da produção."

Fragmento de "O Capital", Volume 3, Capítulo 30, Capital-dinheiro e capital efetivo, Karl Marx.

O capitalismo chega a seu fim? (Tradução de Valdemar Sguissardi)


Le Monde , Paris, 12.10.08.
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Entrevista concedida por Immanuel Wallerstein, pesquisador do Depto de Sociologia da Universidade de Yale, EUA, ex-presidene da Associação Internacional de Sociologia
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  • O capitalismo chega a seu fim

Le Monde: Signatário do Manifesto do Fórum Social de Porto Alegre (“Doze proposições para um outro mundo possível”), em 2005, o Sr. é considerado um dos inspiradores do movimento altermundialista. O Sr. fundou e dirigiu o Centro Fernand-Braudel para o estudo da economia dos sistemas históricos e das civilizações, da Universidade do Estado de Nova Yorque, em Birghamton. Como o Sr. situa a crise econômica e financeira atual no “tempo longo” da história do capitalismo?
Immanuel Wallerstein: Fernand Braudel (1902-1985) distinguia o tempo da “longa duração”, que vê se sucederem na história humana sistemas regendo as relações do homem com seu meio ambiente material e, no interior dessas fases, o tempo de ciclos longos conjunturais, descritos por economistas como Nicolas Kondratieff (1882-1930) ou Joseph Schumpeter (1883-1950). Estamos hoje claramente numa fase B de um ciclo de Kondratieff, que começou há trinta ou trinta e cinco anos, após um fase A, que foi a mais longa (de 1945 a 1975), dos quinhentos anos da história do sistema capitalista.
Numa fase A, o lucro é gerado pela produção material, industrial ou outra; numa fase B, o capitalismo deve, para continuar a produzir lucro, financeirizar-se e refugiar-se na especulação. Há mais de trinta anos, as empresas, os Estados e as famílias endividam-se massivamente. Estamos hoje na última parte de uma fase B de Kondratieff, quando o declínio virtual torna-se real, em que as bolhas explodem umas após outras: as falências multiplicam-se, a concentração do capital aumenta, o desemprego avança e a economia conhece uma situação de deflação real.
Mas, hoje, este momento do ciclo conjuntural coincide com – e conseqüentemente o agrava – um período de transição entre dois sistemas de longa duração. Penso que de fato entramos, há trinta anos, na fase terminal do sistema capitalista. O que fundamentalmente diferencia esta fase da sucessão ininterrupta dos ciclos conjunturais anteriores é que o capitalismo não consegue mais “tornar-se sistema”, no sentido que lhe dá o físico e químico Ilya Prigogine (1917-2003): quando um sistema, biológico, químico ou social, desvia-se demais e muito freqüentemente de sua situação de estabilidade, não consegue mais reencontrar o equilíbrio, e, então, se observa uma bifurcação.
A situação torna-se caótica, incontrolável pelas forças que a dominaram até então, e vê-se emergir uma luta, não mais entre os “donos” e os adversários do sistema, mas entre todos os atores para determinar o que o vai substituir. Eu reservo o uso do termo “crise” a este tipo de período. Pois bem, estamos em crise. O capitalismo chega a seu fim.
Le Monde: Por que não se trataria antes de uma nova mutação do capitalismo, que já conheceu, além de tudo, a passagem do capitalismo mercantil ao capitalismo industrial; depois, do capitalismo industrial ao capitalismo financeiro?
Immnuel Wallerstein: O capitalismo é onívoro, obtendo o lucro onde ele seja maior num momento dado; não se contenta com pequenos lucros marginais; ao contrário, maximiza-os criando monopólios – ainda recentemente tentou fazê-lo nas biotecnologias e nas tecnologias da informação. Mas eu penso que as possibilidades de acumulação real do sistema atingiram seu limite. O capitalismo, desde seu nascimento na segunda metade do Século XVI, nutre-se do diferencial de riqueza entre um centro, para onde convergem os lucros, e as periferias (não necessariamente geográficas) cada vez mais empobrecidas.
Desse ponto de vista, a recuperação econômica da Ásia do Leste, da Índia, da América Latina constitui um desafio insuperável pela “economia-mundo” criada pelo Ocidente, que não consegue mais controlar os custos da acumulação. As três curvas mundiais dos preços – da mão-de-obra, das matérias-primas e dos impostos – estão, por tudo, em forte alta há decênios. O curto período neoliberal que está se acabando inverteu apenas provisoriamente a tendência: ao final dos anos 1990 esses custos estavam, é verdade, menos elevados quem em 1970, mas estavam muito mais altos que em 1945. Na verdade, o último período de acumulação real – os “trinta anos gloriosos” – somente foi possível porque os Estados keynesianos colocaram suas forças a serviço do capital. Mas, ainda então, o limite foi atingido!
Le Monde: Há precedentes da fase atual, como o Sr. as descreve?
Immanuel Wallertein: Existiram muitos na história da humanidade, contrariamente à imagem, forjada nos meados do Século XIX, de um progresso contínuo e inevitável, inclusive em sua versão marxista. Prefiro me apoiar na tese da possibilidade do progresso, não na de sua inevitabilidade. Certamente, o capitalismo é o sistema que soube produzir, de forma extraordinária e marcante, o máximo de bens e de riquezas. Mas é preciso olhar a soma de perdas – para o meio-ambiente, para as sociedades – que  engendrou. O único bem é aquele que permite obter, para o maior número de pessoas, uma vida racional e inteligente.
Dito isso, a crise mais recente, similar à de hoje, foi o desmoronamento do sistema feudal na Europa, entre os meados dos Séculos XV e XVI, e sua substituição pelo sistema capitalista. Esse período, que culminou com as guerras de religião, viu desmoronar as autoridades reais, senhoriais e religiosas sobre as mais ricas comunidades camponesas e sobre as cidades. Foi ali que se construíram, por tateios sucessivos e de forma inconsciente, soluções inesperadas cujo sucesso acabará por “fazer sistema”, apresentando-se pouco a pouco sob a forma do capitalismo.
Le Monde: Quanto tempo deverá durar a transição atual e no que poderá desembocar?
Immanuel Wallerstein: O período de destruição do valor que encerra a fase B de um ciclo de Kondratieff dura geralmente de dois a cinco anos antes que sejam reunidas as condições de entrada numa fase A, quando um lucro real pode novamente ser conseguido de novas produções materiais descritas por Schumpeter. Mas o fato de que essa fase corresponde atualmente a uma crise do sistema nos fez entrar num período de caos político durante o qual os atores dominantes, à testa das empresas e dos Estados ocidentais, farão tudo o que lhes é tecnicamente possível para reencontrar o equilíbrio, mas é muito provável que não o consigam.
Os mais inteligentes já têm compreendido que teria sido necessário fazer qualquer coisa de inteiramente novo. Mas múltiplos atores já estão agindo, de forma desordenada e inconsciente, para fazer emergirem novas soluções, sem que se saiba inda qual sistema surgirá desses tateios.
Estamos numa período, bastante raro, no qual a crise e a impotência dos poderosos deixam um lugar ao livre arbítrio de cada um: existe hoje um lapso de tempo durante o qual cada um de nós tem a possibilidade de influenciar o futuro por nossa ação individual. Mas como este futuro será a soma do número incalculável destas ações, é absolutamente impossível prever que modelo finalmente se imporá. Dentro de dez anos, pode ser que se veja mais claro; dentro de trinta ou quarenta anos, um novo sistema terá emergido. Creio que é possível tanto ver instalar-se um sistema de exploração, infelizmente, ainda mais violento que o capitalismo, quanto ver, ao contrário, instalar-se um modelo mais igualitário e redistributivo.
Le Monde: As mutações anteriores do capitalismo têm muitas vezes desembocado sobre um deslocamento do centro da “economia-mundo”, por exemplo da bacia mediterrânea para a costa atlântica da Europa, depois para a dos EUA? O sistema por vir estará centrado na China?
Immanuel Wallerstein: A crise que vivemos corresponde também ao fim de um ciclo político, o da hegemonia americana, desencadeada igualmente nos anos 1970. Os EUA continuarão sendo um ator importante, mas não poderão jamais reconquistar sua posição dominante em face da multiplicação dos centros de poder, com a Europa ocidental, a China, o Brasil, a Índia. Um novo poder hegemônico, se a gente se refere ao tempo longo braudeliano, pode levar ainda cinqüenta anos para se impor. Mas eu ignoro qual.
Enquanto se espera, as conseqüências políticas da crise atual serão enormes, na medida em que os “donos” do sistema irão tentar encontrar bodes expiatórios para o desmoronamento de sua hegemonia. Eu penso que a metade do povo americano não aceitará o que está se passando. Os conflitos internos vão, portanto, exacerbar-se nos EUA, que estão a ponto de se tornarem o país mais instável politicamente do mundo. E não esqueçais que nós, os americanos, estamos todos armados...
Depoimento recolhido por Antoine Reverchon.
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Tradução: Valdemar Sguissardi (Piracicaba, 18 de outubro de 2008)


A DIALÉTICA E O MARXISMO: Filosofia e Questões Teóricas

Leandro Konder
(Aula magna proferida na PUC-RJ em 28/03/2003)

Peço licença para começar por uma curiosa experiência vivida há muitos anos, em 1964, no IPM do ISEB. Interrogado por um coronel a respeito de uma palestra que eu havia feito sobre o marxismo, falei em dialética. Para a minha surpresa, o coronel explicou ao sargento datilógrafo: "A dialética é esse negócio que os comunas inventaram para dizer que uma coisa é, mas ao mesmo tempo não é"...

No momento em que ouvi a explicação, por força da situação grotesca, achei-a apenas engraçada. Sinistra, porém cômica. Com o tempo, entretanto, comecei a reconhecer que havia alguma procedência naquela crítica rudemente formulada: de fato, com esse sentido a dialética tem sido - e continua sendo - usada com freqüência.

Essa constatação me levou, muitos anos depois, a escrever um livrinho de divulgação intitulado O que é Dialética, tentando dissipar alguns dos mal-entendidos que circulam em torno da dialética. Não tive a ambição de superar o mal-entendido em geral, porque desconfio que o mal-entendido em geral é insuperável: ele brota incansavelmente das brechas que sempre existem na articulação entre o nosso saber e o real; ele aproveita a inesgotabilidade do real, a irredutibilidade do real ao conhecimento.

O que podemos fazer, reconhecendo as limitações do nosso conhecimento, é admitir com Hamlet que há mais coisas no céu e na Terra do que supõe a nossa filosofia. A tradução usual acrescentou "vã" filosofia, mas o que Shakespeare escreveu foi : "There are more things in Heaven and Earth, Horatio, / Than are dreamt of in our philosophy" (Hamlet, primeiro ato, quinta cena). A filosofia pode se reconhecer como limitada sem se considerar vã.

A construção do conhecimento necessita de desconfiança em relação a si mesma e também de autoconfiança. Em que a dialética, na concepção de Marx, pode contribuir para a satisfação de cada uma dessas necessidades?

A contribuição para desconfiança vem pela ligação com o conceito de ideologia: a distorção ideológica pode ser tão sutil que eu não a perceba infiltrar-se em meu ponto de vista, em minhas razões, em minha ciência, em minhas intuições.

A contribuição para a autoconfiança vem pela ligação com o conceito de práxis, a atividade do sujeito que de algum modo aproveita algum conhecimento ao interferir no mundo, transformando-o e se transformando a si mesmo.

Cabe à dialética, em Marx, articular a crítica das ideologias à práxis.

Se a crítica das ideologias não se ligar à práxis, ela tende a se deteriorar, tende a se reduzir a mera ...distorção ideológica.

Se a práxis não se ligar a uma constante crítica das ideologias, ela degenera em pragma.

De fato, as três se condicionam reciprocamente; a práxis precisa da crítica das ideologias para melhorar o conhecimento com base no qual se orienta; a crítica das ideologias precisa ao mesmo tempo contribuir para a orientação e para o questionamento da práxis. Cada uma das duas, então, precisa da outra. E ambas necessitam da dialética (como a dialética necessita de ambas).

O conceito de práxis é decisivo na distinção entre a dialética de Marx e a do seu mestre, Hegel. É verdade que em ambos a dialética se funda como uma ontologia e não como uma teoria do conhecimento. O que conta, para os dois, é o movimento do ser, suas contradições. No entanto, eles divergem na compreensão desse ser que se move e no entendimento de qual possa ser a sua relação com o conhecimento.

Para Hegel, ou o conhecimento expressa o ser e o ilustra, ou então se afasta do ser, torna-se mero equívoco e não interessa. Para Marx, os homens, sujeitos da práxis, se servem daquilo que conhecem ou julgam conhecer.

Na práxis, o sujeito age conforme pensa, a prática "pede" teoria, as decisões precisam ter algum fundamento consciente, as escolhas devem poder ser justificadas. Na práxis, o sujeito projeta seus objetivos, assume seus riscos, carece de conhecimentos. Na oitava das "Teses sobre Feuerbach", Marx distingue explicitamente a práxis e a "compreensão" ["Begreifen"] da práxis (quando afirma que os mistérios em que a teoria tropeça são solucionados na práxis e na compreensão da práxis). (MARX, vol. III).

Pouco antes, em sua polêmica com a "sagrada família" dos hegelianos, Marx havia escrito: "A verdade é, para o senhor Bauer, tal como para Hegel, um automaton que se prova por si mesmo. O ser humano só tem que segui-la" (MARX vol. II).

A teoria, então, tem que "morder" as diferentes ações transformadoras, e pode não conseguir fazê-lo, ou pode "mordê-las" muito deficientemente. Em todo caso, fica claro que a interferência da construção do conhecimento na práxis, para Marx, se reveste de uma dramaticidade e assume uma importância que a gnosiologia hegeliana jamais reconheceria.

Hegel admitia que no movimento do ser havia um momento necessário em que aparecia a liberdade, o sujeito humano manifestando seu poder de interpretar o real e tomar iniciativas; esse poder, contudo, acabava sendo bastante restrito, era rigidamente condicionado, subordinado a uma racionalidade ainda sufocante.

Em Marx, surge a possibilidade de se pensar o sentido da história não a partir de uma razão constituída, mas a partir de uma razão constituinte. O sentido do nosso movimento não é anterior à nossa intervenção: é instaurado por nós, dentro dos limites que nos são impostos pelo quadro em que nos inserimos.

Sem se entregar a uma visão irracionalista da história, Marx abre caminho para uma dialética que pode superar o determinismo, isto é, pode acolher a riqueza do subjetivo na objetividade, ou, em outras palavras, pode continuar respeitando a necessidade e ao mesmo tempo pode assimilar a liberdade (sem estreitá-la).

Na história do marxismo, entretanto, a direção em que se moveu a dialética de Marx não foi tão fecunda como se poderia esperar. O determinismo, expulso da doutrina pela porta da frente, logo voltou a infiltrar-se nela pela porta dos fundos.

As urgências da luta política criaram condições nas quais os militantes organizados eram extremamente vulneráveis ao sentimento gratificante de se acharem na "crista da onda" do "progresso", e esse sentimento, conforme observou Walter Benjamin, inseria os homens num tempo "vazio e homogêneo", desviando-os do desafio que consiste em "escovar a história a contrapelo" (BENJAMIN).

Quando Marx, aos 25 anos, propôs que a revista alemã, que ia ser lançada em Paris sob sua direção, tivesse como lema "uma crítica implacável a tudo que existe" (MARX, vol. I), o movimento operário não tinha, por assim dizer, nada a perder.

No final do século XIX, porém, os socialistas haviam criado os primeiros partidos de massa, os primeiros sindicatos de massa, a segunda Associação Internacional dos Trabalhadores, e possuíam, portanto, todo um patrimônio político pelo qual deveriam zelar. Convinha-lhes, então, agir com alguma prudência.

No novo quadro, reconhecia-se a verdade enunciada pelo velho Goethe, no seu Wilhelm Meister: "São poucos os que refletem e são capazes de agir. A reflexão amplia, mas enfraquece; a ação revigora, mas limita"( GOETHE, VIII, cap. 5).

Entre os poucos que uniam convincentemente reflexão e ação, naquele momento, estava Karl Kautsky, líder e principal teórico do Partido Social-Democrático dos Trabalhadores Alemães. A influência de Kautsky foi enorme. Segundo o historiador francês Georges Haupt, pela seleção dos textos que considerava importantes de Marx e pela concatenação de tais textos, foi Kautsky quem criou "o marxismo" (termo que Marx recusava). (HAUPT).

O "marxismo" que assim nascia se baseava numa opção problemática. Dissemos que Kautsky unia convincentemente a reflexão e a ação. Devemos perguntar, porém, de que reflexão e de que ação se trata.

Kautsky nunca deixou de ser darwinista e adepto da teoria evolucionista. Por isso, nunca se interessou de fato pela dialética e difundiu com êxito sua leitura da concepção de Marx como um determinismo histórico. Para ele, o novo não vinha de uma ruptura: era o resultado do lento e inexorável amadurecimento de algo que já existia antes e ainda não era percebido e afinal passou a ser enxergado.

A idéia ainda ganhou mais força com a publicação, na época, de um livro escrito pelo genro de Marx, Paul Lafargue, intitulado, sintomaticamente, O Determinismo Econômico de Karl Marx. (LAFARGUE).

A convicção de serem os representantes de um movimento revolucionário objetivo, que estava se realizando inexoravelmente, consolava e reanimava os lutadores nos momentos difíceis, ajudando-os a suportar derrotas, porém, quando se organizava em forma de teoria, assumindo a forma de um determinismo ou "mecanicismo fatalista", atrofiava-lhes a capacidade de tomar iniciativas, tornava-se "causa de passividade", segundo a análise feita por Antonio Gramsci (vol. I, p. 107) (GRAMSCI).

A dialética se retraiu. Apesar das advertências feitas por Lukács em 1922, em História e Consciência de Classe (LUKACS), apesar das lúcidas observações de Gramsci e Benjamin, a dialética encontrou pouco espaço para florescer no espaço ocupado pelo "marxismo oficial", tanto na versão social-democrática como na nova versão leninista.

Foi grave, mesmo, o que aconteceu com o pensamento de Marx no uso que lhe deram os políticos e teóricos integrados ao movimento dos partidos comunistas: instituiu-se uma "ortodoxia" posta sob o controle dos dirigentes supremos do movimento comunista mundial e se reduziu drasticamente o espaço da reflexão livre ligada à ação.

A dialética não podia deixar de se ressentir do cerceamento do diálogo (convém não esquecermos que os dois termos nascem irmanados: diálogo vem de dia+logos e dialética vem de dia+lêgein).

É certo que dialética e dialógica não são sinônimos; existem procedimentos dialógicos que não são dialéticos, quer dizer não reconhecem a centralidade da contradição. No entanto, quando as condições históricas se tornam muito desfavoráveis ao diálogo, elas tendem a prejudicar a dialética.

A divisão dos socialistas na Europa mostrou que as duas tendências principais do movimento não estavam preparadas para pensar e realizar a unidade na extrema diversidade. Divididos, social-democratas e comunistas acabaram, por diferentes caminhos, se acumpliciando com a depreciação da dialética.

Os social-democratas tenderam a reduzir Marx a um teórico importante, mas igual a muitos outros, autor de umas tantas idéias que poderiam ser ecleticamente aproveitadas em contextos específicos. Eduard Bernstein propunha mesmo, francamente, substituir a dialética pelo velho e bom empirismo inglês.

E os comunistas tenderam a reduzir a dialética - pragmaticamente - àquilo que o coronel do IPM do ISEB caracterizou como o que os "comunas" inventaram para dizer que uma coisa ao mesmo tempo é e não é...

Nos termos da frase de Goethe, agora modificada, a ação limitava e não revigorava a reflexão, e a reflexão enfraquecia a ação sem amplia-la.

O que era realmente grave é que não se tratava de mero descuido. O filósofo tcheco Karel Kosik observou que no sistema político adotado pelos comunistas havia uma polarização entre o detentor de um saber proporcionado pela teoria revolucionária (o "Comissário do Povo") e o homem comum, a quem a "Verdade" está sendo levada. Quanto mais este último deixasse de formular dúvidas ou objeções, mais ele seria considerado "bem encaminhado" pelo primeiro. O funcionamento do sistema, então, teve como conseqüência inevitável, de um lado, o fortalecimento do dogmatismo do "Comissário" e, de outro, a passividade do consumidor da doutrina (KOSIK).

Houve, sem dúvida, resistências a esse processo. Além dos já lembrados Lukács, Benjamin e Gramsci, diversos outros nomes merecem ser lembrados, como, entre muitos outros, Adorno e Horkheimer. É muito significativo, porém, que esses autores tenham ficado marginalizados, ou no mínimo postos sob áspera suspeita, com escassa influência real sobre o grande movimento político que se realizava, então, em nome do marxismo.

O processo da derrocada da União Soviética mudou o quadro. Livres do pesado compromisso - que lhes era cobrado - de proteger e preservar o sistema dos partidos comunistas e o vasto e imponente aparelho estatal de uma superpotência, os marxistas podiam, dentro de certos limites, voltar a sentir alguma proximidade com a disponibilidade, alguma afinidade com o despojamento que tinha o jovem Marx para uma "crítica implacável a tudo que existe".

Se existe alguma possibilidade de revitalização do marxismo como teoria, ela depende, certamente, dessa recuperação das raízes da dialética. Nas atuais circunstâncias, a dialética enfrenta o desafio de um recomeço.

Cabe-lhe resgatar a força da dialógica, que chegou a desempenhar um papel tão importante nos escritos de Platão, abrindo espaço no movimento do pensamento para a incorporação necessária do discurso do Outro, como pré-requisito para a elevação da filosofia em direção ao mundo das idéias.

Cabe-lhe associar a radicalização de sua vocação crítica ("mudar a vida!", conclamava o poeta Rimbaud) a uma modéstia metodológica e a uma vigilância autocrítica que lhe permitam enxergar suas próprias limitações e a estimulem a buscar naquilo que surge de novo no campo de seus interlocutores/contraditores elementos que podem - surpreendentemente - ensejar a ampliação de seus horizontes.

A dialética, como modo de pensar, suporta mal qualquer tentativa de defini-la. Algumas das suas características mais importantes, contudo, podem ser determinadas aproximativamente. Podemos constatar, por exemplo, que ela depende essencialmente da capacidade do sujeito de apreender o novo e a contradição. Ou, em outras palavras: depende do reconhecimento pelo sujeito da "formação ininterrupta da novidade qualitativa" (LUKÁCS, p. 260) e da sua capacidade de se orientar no quadro das contradições com que se defronta e que inevitavelmente o envolvem.

Como o novo está sempre surgindo e as contradições estão constantemente ultrapassando os limites da sua compreensão, o sujeito, na dialética, não pode deixar de ter no infinito uma referência fundamental: a infinitude é a categoria que lhe permite entender o real como efetivamente inesgotável, irredutível ao saber.

Apesar das diferenças (que não devem ser subestimadas), cumpre reconhecermos, então, uma convergência entre a dialética e a mística: em ambas, o sujeito se sente em face de algo maior do que aquilo que está ali, quer dizer, se sente relacionado a algo que transcende a realidade imediata, algo que vai além da realidade restritamente presente, que o seu conhecimento poderia pretender dominar e exaurir.

Nas décadas de maior influência do movimento comunista, o "marxismo oficial" se recusava a admitir esse ponto de convergência e fechava obstinadamente os olhos diante de obras tão instigantes como as de mestre Eckhardt, Nicolau de Cusa e Blaise Pascal.

Outro obstáculo no qual o "marxismo oficial" tropeçava era aquele que se refere às relações da dialética com a natureza. Com uma curiosidade digna de admiração, porém manifestando um espírito um tanto amadorístico, o velho Engels fez algumas observações a respeito do que seria as "leis da dialética" no âmbito das ciências naturais; tomou algumas notas e as deixou com pessoas que as editaram em livro, sustentando a tese de que havia uma dialética que abarcava desde a natureza até a história.

Com a "dialética da natureza" se atenuava a ruptura da passagem dos processos naturais aos processos históricos, as categorias básicas da dialética eram trabalhadas de maneira a valer para os dois níveis, o que acarretava certa "naturalização" da história.

A teoria da "dialética da natureza" exerceu uma forte influência até mesmo sobre alguns marxistas argutos, como Henri Lefebvre, que escreveu: "o homem continua sendo um ser da natureza, mesmo quando se apropria dela. Às vezes, ele chegou a crer que seus fins se opunham à natureza: sua liberdade, por exemplo. Porém essa liberdade só tem sentido e realidade na natureza e pela natureza" (LEFEBVRE).

Hoje em dia, preocupados com a dilapidação dos recursos - finitos! - do nosso planeta, será muito difícil encontrarmos alguém que nos assegure que o desperdício de água, as atividades industriais danosas ao meio ambiente e a destruição da floresta amazônica são "naturais".

Uma terceira "derrota" histórica da dialética decorreu do fato de que, negada a sua origem (na relação sujeito/objeto), deixava de ser reconhecido o poder que os sujeitos têm de fazer escolhas, de tomar decisões, antevendo os objetivos que pretendem alcançar. Ao invés de pensar a totalização a partir da práxis, os adeptos da "dialética da natureza" impuseram um concepção prepotente de totalidade, fundindo (e confundindo) o natural e o social.

Hoje, a dialética enfrenta outras batalhas. Vive, como diria Merleau Ponty, outras "aventuras" (MERLEAU-PONTY). Recusa-se, como sempre, a se deixar enquadrar como "método" ou - o que é pior - como "doutrina". Caso ela se deixasse enquadrar como uma doutrina, simplificaria muito o nosso trabalho como professores, na educação dos jovens. Acontece, entretanto, que os jovens para os quais nós transmitiríamos a doutrina seriam, afinal, tudo que possamos imaginar, menos ... dialéticos.

Como a dialética vem entrando no século XXI ? Ela se sabe mais ampla do que o marxismo. Pode-se ser dialético sem ser marxista (como era o caso de Gerd Bornheim e, em certo sentido, do padre Henrique Cláudio de Lima Vaz, dois filósofos importantes, recentemente falecidos, e que estão nos fazendo muita falta).

Também é evidente que se pode ser marxista sem ser verdadeiramente dialético.

A dialética, se me permitem dizê-lo cum grano salis, tem simpatizado com o marxismo, porém não parece disposta a lhe assegurar que ela é a mulher da vida dele. Por fidelidade ao Modernismo, com quem viveu bons momentos, trata o Pós-Modernismo com frieza. Faceira, insinua, contudo, que de repente pode mudar de atitude.

Não ficou nem um pouco magoada quando José Guilherme Merquior se referiu a ela como uma "dama de costumes fáceis" (MERQUIOR, p. 178). Prefere, entretanto, o elogio que o poeta Bertolt Brecht fez ao seu senso de humor. Imagino-a dizendo:

- Brecht tinha razão. Quem não tiver senso de humor nunca me compreenderá.

Bibliografia

BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas, vol. I, Trad. Sérgio Paulo Rouanet, SP, Brasiliense, 1985.

GOETHE,W. Wilhelm Meister. Ed. Goldmann, 1975.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere, trad. Carlos Nelson Coutinho, Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira, RJ, Civilização Brasileira, 1999.

HAUPT, Georges. L'historien et le mouvement social, Paris, Maspero, 1971.

KOSIK, Karel. "Moral da Dalética e Dialética da Moral", in Moral e Sociedade, Rio ed. Paz e Terra, 1968.

LEFEBVRE, Henri. Que es la dialectica. Trad. Rodrigo Garcia Treviso. Buenos Aires, La Plêiade, 1975.

LUKACS, Georg. Geschichte und Klassenbewusstsein. Neuwied & Berlim, luchterhand, 1970.

MARX, Karl. Marx-Engels-Werke. Berlim, Dietz, volumes 1, 2 e 3, 1962 e 1964.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Les aventures de la dialectique, Paris, Gallimard, 1953.

MERQUIOR, José Guilherme. As Idéias e as Formas. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981.

SHAKESPEARE, William. Hamlet. Londres, Penguin, 1985.



Leandro Konder é filósofo