sábado, 30 de outubro de 2010

Por que Marx não era positivista?

Por que Marx não era Positivista?
 
 
O cinismo da razão desprovida de razão vigora no ambiente acadêmico e considera Marx positivista. Abaixo, alguns apontamentos contra essa razão cínica que age à revelia do conhecimento. Abaixo, alguns apontamentos que refutam essa tese.
 
Para o positivismo de Augusto Comte, o estado positivo (a ciência, a indústria e o capitalismo) e as ciências do homem (ciências humanas), em particular a Física Social ou Sociologia, operam com leis universais e necessárias. A sociedade tem leis, tal como as leis da natureza. Compreender o funcionamento dessas leis é poder controlar e prever os acontecimentos sociais. Há uma ordem na natureza e essa ordem deve acompanhar o funcionamento da sociedade; só haverá progresso se houver ordem. Isso significa que não é possível modificar situações de opressão social, de exploração de uma classe por outra, tal como defendera Marx. O que se espera é que haja harmonização dos conflitos sociais, dar continuidade ao estado de exploração e opressão de uma classe social sobre a outra. Para o fundador do positivismo, o que vale é a manutenção da ordem social estabelecida. O capitalismo é, pois, o � �ltimo estágio, o ápice da evolução do pensamento da humanidade. Em outras palavras, Comte acreditava na submissão dos trabalhadores aos capitalistas, de tal forma, que sua doutrina positivista cumpriria a função reguladora e preparadora dos proprietários capazes de convencer os trabalhadores a respeitarem e mesmo reforçar "as leis naturais" da concentração do poder e da riqueza. Marx, no primeiro livro de O Capital, escreveu: “Augusto Comte e sua escola procuraram demonstrar a eterna necessidade dos senhores do capital; eles queriam tão bem quanto e com as mesmas razões, demonstrar a eterna necessidade dos senhores feudais” (p. 631). Ao invés de leis deterministas, que operam dentro da lógica formal, Marx afirmou que o que há são leis de tendência.
 
Para Marx, a história não é concebida como o desenvolvimento linear do pensamento, mas, da ação dinâmica e contraditória dos conflitos vivos entre grupos sociais. Marx não pretende, assim como Comte, criar uma teoria de reconstrução das crenças morais da sociedade. Enquanto Comte deseja manter os interesses e conquistas dos burgueses, dos capitalistas e argumenta que os trabalhadores devem manter-se resignados e aprender com as mulheres (consideradas naturalmente inferiores e fracas em relação aos homens), Marx, ao contrário, defendeu ativamente a emancipação geral: não de um indivíduo, grupo, etnia, classe social ou casta. Ele apenas identificou que essa emancipação geral não seria alcançada por nenhuma lei da boa vontade e não chegaria dos céus, mas, deveria haver um processo de enfrentamento das forças hegemônicas (políticas e econômicas).
 
Marx opera no âmbito de uma ontologia do ser social e Comte a partir de uma teologia profana e de uma ciência ideologizada - cientificismo - a partir de uma lógica formal que concebe a história como algo linear, cumulativa, que caminha sempre para o melhor e da ideia de neutralidade científica.

Marx, diferente de Comte, considera que a ciência não está acima do bem e do mal, portanto não é neutra mas é apropriada pelos interesses hegemônicos (econômicos e políticos) da sociedade. A partir de Hegel, ele concebe a história como sendo produzida por homens e mulheres em condições determinadas de produção social da existência que por sua vez também determinam a existência individual. Portanto, enquanto Comte afirma que a história é fruto da evolução do espírito ou pensamento humano, Marx considera que a história é o resultado de forças opostas que se enfrentam no ambito dos antagonismos presentes na produção e nas relações de produção. Nesse sentido, não é o pensamento, não é a ideia que produz o mundo, mas o contrário, o mundo que efetivamente existe - o mundo social e natural - é que produz o pensamento e as ideias.

Para ele a dialética - tese, antítese, síntese - opera por meios de categorias próprias da realidade social, dentre elas a contradição ou princípio da contradição. A apropriação do conhecimento científico e tecnológico pela classe que detém os meios de produção da existência social, ao invés de produzir uma sociedade mais plena, com progresso para todos, ao contrário, produz a danificação da vida de milhares de pessoas e da própria natureza como um todo. Assim, enquanto o positivista Augusto Comte defende a harmonia social, ou seja, a ordem institucional, que significa obediência às leis do Estado burguês, o materia lista e dialético Marx, pelo contrário, afirma que a realidade é movida pelo conflito que gera a transformação para algo novo. Sendo assim, ele é contra qualquer tipo de opressão social e a divisão da sociedade em classes sociais com interesses antagônicos e divergentes.

Mas, como disse no início, talvez, o que vigora, aquilo que é mais senso comum, até mesmo entre alguns intelectuais, são argumentos falaciosos que tentam desmerecer a filosofia de Marx que, com certeza, apresenta pontos que merecem ser devidamente criticados, mas a partir de um esforço acadêmico que transpõe o cômodo lugar da reprodução sensocomunizada de determinadas falácias. Por essa razão, considerar Marx positivista é, definitivamente, no mínimo, preguiça intelectual. Esse tipo de preguiça não acomete apenas a intelligentsa nacional, mas, é fenômeno internacional.

sábado, 23 de outubro de 2010

Encontro dia 28.10.2010 - Por que Marx não era positivista?


Foto de Sebastião Salgado
No nosso próximo encontro daremos continuidade às discussões em torno dos seguintes temas e, o Hauseaufgaben - "dever de casa" será:

1) Por que Marx não era positivista? Evidenciar elementos que deslegitimam a tese, muito recorrente por parte de intelectuais que tentam desqualificar a teoria marxiana (de Marx), de que Marx era positivista;
2) Eleger um problema a partir dos textos estudados, dos debates/discussões ao longo do curso para produzir o artigo. Lembrar que o prazo para entregar esse artigo deve ser até o final do mês de novembro (informações sobre a formatação seguem abaixo)

OUTROS

Prosseguiremos com a discussão em torno da relação entre estrutura e superestrutura.

INFORMAÇÕES SOBRE A FORMATAÇÃO DO ARTIGO (p/ o final de novembro)

Mínimo de cinco, máximo 10 laudas (páginas). Fonte Times NewRoman, tamanho 12. Espaço 1.5 entre linhas. Margens: 2.5, esq/dir e sup/inf.
Título do trabalho centralizado. Abaixo (3 toques) nome do/a autor/a
Resumo: máximo dez linhas (conter o problema, o objetivo, alguma possível hipótese reflexiva, resultados da reflexão)
Palavras-chave: três a cinco

Na introdução, é interessante indicar o percurso (narrativa de construção) do problema e qual o objetivo do artigo e se há alguma hipótese que sustenta a reflexão proposta. Apontar a lógica argumentativa utilizada para a produção do artigo.






quinta-feira, 5 de agosto de 2010

CALENDÁRIO DO CURSO 5ªs FILOSÓFICAS 2010.2

Nosso primeiro encontro, nesse semestre (2010/2), será na próxima 5ª feira, dia 12.08, na sala 25 - IC-IV, 2º piso.

CALENDÁRIO 2010.2

12 e 26.08.2010
09 e 23.09.2010 - Sala 4 IC-IV
07 e 21.10.2010 - Sala 4 IC-IV

04 e 18.11.2010 - Sala 4 IC-IV

02.12.2010 - Sala 4 IC-IV

TEXTO PARA DEBATE

Feuerbach - Oposição entre concepção materialista e idealista, p. 183-214 - In: Marx e Engels: História. [Organização de Florestan Fernandes] 3. ed. São Paulo: Ática, 1989. Está na pasta do curso, na fotocopiadora do IC-IV.
Bons estudos!
Att,
Prof. Robson
Profª Sandra


domingo, 16 de maio de 2010

Próximas Reuniões do Curso de Extensão - 27.05 e 03.06.2010

Prometeu acorrentado
Nicolas Sebastien Adam (1762)


ATENÇÃO

Nossas próximas reuniões serão nos dias 27.05 e 03.06.2010, nas quais daremos continuidade à leitura e estudo dos Manuscritos.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

TRADUTORE - TRAIDORE

Já é quase senso comum aquela célebre máxima latina, que muito incomoda os intelectuais - tradutore, traidore. Isto é, a tradução é uma potencial traição à língua original da obra. Nesse sentido, fizemos a opção de apresentar a tradução dos Manuscritos Econômico-Filosóficos publicado pela BoiTempo Editorial, pois, em princípio, trata-se de um trabalho bem organizado, o que não significa que não haja problemas, como em toda e qualquer traição, digo, tradução. Sem contar, também, que teríamos que fragmentar muito o trabalho de fotocopiar os textos.
Comentários sobre a tradução do Jesus Ranieri, de algumas breves passagens dos Manuscritos (BoiTempo Editorial) e comparação com a tradução da equipe do Florestan Fernandes, publicação da Editora Ática (Marx/Engels – História, Coleção Grandes Cientistas Sociais).

  • BoiTempo - p. 79 – Trabalho estranhado [Die entfremdete Arbeit] –
- Florestan - na tradução realizada por Florestan Fernandes, Viktor Von Ehrenreich, Flávio René Kothe, Régis Barbosa e Mário Curvello, da coleção Grandes Cientistas Sociais (Ática), eles optaram por traduzir entfremdete Arbeit por Trabalho Alienado, ao invés de Trabalho Estranhado.
  • BoiTempo - Ainda na p. 79 / XXII /, onde se lê “Partimos dos pressupostos da economia nacional” (Wir sind ausgegangen von den Voraussetzungen der Nationalökonomie) –
- Florestan - Essa passagem ficou assim traduzida, na edição organizada e traduzida pelo Florestan Fernandes: Partimos dos pressupostos da Economia Política. Se a tradução fosse ipsis literis (ao pé da letra), Nationalökonomie deveria ser economia nacional. Não obstante, Marx referia-se á Economia Política. Nesse sentido, a “traição” realizada pela equipe do Florestan parece ser mais apropriada.

Tudo indica que, nessas duas passagens, a tradução menos traidora do sentido é a da equipe do Florestan. Quem tiver interesse em ler o original, acessar Ökonomisch-philosophische Manuskripte (MARX, Karl).

Essas observações não desmerecem, em hipótese alguma, o trabalho realizado por Jesus Ranieri, tradutor dos Manuscritos publicado pela BoiTempo. As observações aqui apresentadas expressam apenas a dificuldade que é a atividade de tradução e como ela envolve uma dimensão existencial, política, cultural, afetiva que vai além da mera transposição de expressões de uma língua para outra. 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Próxima reunião Quintas Filosóficas - 06.05.2010 (Sala 4 - IC-IV/CE)

No encontro de ontem fomos presenteados com a participação especial dos professores Vinícius e Rogério que realizaram uma qualificada intervenção no tratamento da temática sobre a Economia Política e as influências teóricas de Marx, no âmbito da economia.
Para o próximo encontro (06.05), a discussão será em torno dos manuscritos econômico-filosóficos (material encontra-se na fotocopiadora do IC-IV, no CE/UFES).
***
É fundamental a leitura prévia do material para que possamos acompanhar a exposição e o debate.
****
Por mais que tenhamos a ansiedade de prospectivar os problemas, propomos uma atenção especial ao texto e à compreensão do mesmo. Isso não significa que a prospecção não seja importante, mas, que o zelo na compreensão dos elementos, conceitos, categorias presentes nos argumentos do autor são condição sine qua non para qualquer manifestação especulativa (se: passado ou futuro), criativa (produção de novos conceitos), imaginativa (construção de intuições imagéticas). Aliás, aí está um dos segredos de Marx, a interlocução com os intelectuais de seu tempo, mas, a partir de uma perspectiva de apropriação, incorpore-ação de categorias analíticas, conceitos, etc. Não obstante, isso não é mérito apenas de Marx, mas de tantos outros intelectuais, filósofos, artistas, cientistas etc.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Texto base para a reunião do dia 22.04.2010

Nosso próximo encontro será coordenado pelos Profs. Vinícius Vieira Pereira e Prof. Dr. Rogério Faleiros. O Professor Vinícius é bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Mato Grosso e Mestre em Economia pela UFES. Atualmente desenvolve pesquisa na área de  História Econômica e ministra a disciplina Formação e desenvolvimento do capitalismo no curso de Ciências Econômicas da UFES. O Professor Faleiros é formado em História pela Unesp, com mestrado e doutorado em Economia pela Unicamp, também desenvolve pesquia na área de História Econômica/Desenvolvimento Econômico e ministra as disciplinas Formação Econômica do Capitalismo Contemporâneo e Pensamento Econômico Político e Social Brasileiro. O Professor Rogério propõe  O pioneirismo de Smith, como texto introdutório à discussão que será realizada.